terça-feira, 30 de janeiro de 2007

saldo da festa de lançamento do cd do gaita-list 2006

desculpe o post imenso e incompleto. mas não é todo dia.

antes de mais nada, gostaria de dizer que estou muito feliz com o resultado do evento como um todo. acho que foi o que eu gostaria e mais um pouco. também tive muita sorte e pude contar com a ajuda de muita gente e que uma grande conjunção de fatores foi o que realmente fez do evento a coisa legal que foi.

a primeira coisa sobre este evento é que como ele era minha despedida do projeto do cd do gaita-list, eu fiz questão que fosse em BH. Isso por causa de uma frase que o gaspar me disse em 2001, quando eu fiz o primeiro lançamento do cd do gaita-list no bar da estação, quando veio gente de tudo quanto é canto e quando conseguimos tirar o marcelo batista de casa para ir lá tocar. foi um grande sufoco pq eu não tinha tempo nem experiência. Eu não tinha a menor idéia do que era necessário para se fazer um evento desses. mas o que ele me falou, quando eu falei que queria levar o evento para outros estados, foi "não, cara, o lançamento tem que ser sempre aqui, em BH".

o que ele queria dizer, que eu entendi, foi "vc é de BH, vc tem que fazer as coisas acontecerem onde vc mora. a obrigação de fazer as coisas acontecerem nos outros estados é das pessoas que estão lá". Pois então, este evento tinha, em primeiro lugar, que prestigiar o que é daqui. Prestem atenção na programação dos shows: serve para quem não toca tocar. O Vide Blues já tinha provado que era uma ótima banda, mas casa nenhuma de BH topava pagar o transporte da banda. Minas é assim. Casa nenhuma topa pagar para trazer as boas bandas do interior de Minas, como a Duocondé e a Yellow Cab, que mandam ver mas que não chegam a BH. E ao contrário, levam blueseiros do RJ e SP para lá para tentarem ganhar visibilidade da mídia pq o mineiro não valoriza o que tem, valoriza a grama mais verde do vizinho.

então fiz questão de tentar trazer o Vide Blues. Sem cachê, só com o transporte. Meu plano tb incluía o Hot Spot, que sempre abriu generosamente o espaço para os gaitistas em BH, mas a incerteza de um cachê legal e a coincidência com o aniversário do guitarrista me fizeram optar pelo Vide Blues.

outros gaitistas que tinham seu trabalho mas que não conseguiam lugar para tocar era a minha e a do osmar. Os dias do blues em BH são de semana, as casas são longe ou são caras ou só suportam o esquema acústico. Ou são profissionais demais para permitir o caos que são as canjas e a variedade do evento.

Quando o produtor da Rede Minas me ligou e perguntou pq o show seria no Pau e Pedra, argumentando que não era uma casa de blues, eu quase respondi "vai ser lá pq a casa é boa, as pessoas podem chegar de ônibus, portanto a distância não segrega quem não tem carro, o dono é honesto - o que nem sempre acontece em BH, o som é OK e principalmente pq eles compraram a briga e apostaram no meu projeto".

Sim, eu ofereci para um monte de lugares "típicos de blues", mas eles têm seu público e não têm porque arriscar no meu evento de gaita, até pq, se soubessem o mínimo de blues e de gaita, saberiam que todos os outros eventos foram da maior qualidade e que alguns dos melhores gaitistas do país viriam ao evento e tocariam puramente por amizade.

Mas eles não sabem. BH não tem uma casa de blues. BH sofre do mesmo estigma que vários outros lugares do Brasil onde o blues não passa de um estereótipo, onde blues é música para motoqueiros e que o show precisa começar 1 da manhã e terminar 5 da manhã. Bem, lamento dizer, mas depois de tocar 6 sábados de 14 às 19 na barbearia em D.C., você aprende que o blues é muito mais simples e muito menos posudo. Blueseiros brasileiros fariam um blues melhor se parassem de tentar cantar com a voz rouca igual ao Clapton.

As conjunções começaram a partir do momento em que eu joguei o evento para janeiro, novamente, dando ouvidos a outra pessoa, desta vez o Bresslau. Para mim, era claro que o evento só faria sucesso se fosse em Dezembro ou Novembro, mas seguir o conselho do Bresslau foi fundamental, pq somente com o evento em Janeiro, eu pude ter a atenção da mídia, a tranquilidade da cidade vazia e com pouco trânsito, férias para pessoas de outros lugares poderem vir, passagens baratas de vinda, estadias baratas de baixa temporada, facilidade para agendar shows e um público imenso sedento de boas atrações culturais.

Também tinha a questão do pandeiro. O pandeiro mineiro, assim como todo o projeto do tambor mineiro encabeçado pelo Maurício Tizumba é uma das forças musicais e culturais mais relevantes de BH. Grande parte dos músicos daqui bebe da fonte quase inesgotável de boas músicas, originalidade, talento, alegria e carga cultural do tambor mineiro. Poder contar com a presença da Danuza Menezes e seus alunos não foi somente sorte, mas um privilégio, pq sendo o pandeiro um instrumento-irmão da gaita (busca os graves, é subestimado, tem potencial enorme, é portátil, é versátil), a combinação não tinha como dar errado.

Ano retrasado eu tentei trazer os gaitistas de BH para a MPB e para o samba nos eventos do bar Otoni 16. No fim do ano passado, eu quase consegui novamente, mas o bar mudou de dono e eu confesso que fiquei bem frustrado. Com o lançamento e com o pandeiro mineiro, eu não só consegui correr atrás do prejuízo como pode-se fazer jus a um fato que sempre foi uma constante em todos os cds do gaita-l: metade do repertório do CD sempre foi MPB. Por que então o blues como a única constante dos shows de lançamentos de gaita?

Acabei por tocar sozinho a maioria das músicas com o pandeiro pq faltou tempo de várias pessoas, e tenho certeza que elas fizeram o que podiam. Mas o importante é que as cartas foram lançadas e o terreno está aberto. BH ainda é o reduto da maioria quase absoluta de gaitistas de blues do Brasil, enquanto nos outros estados, despontam gaitistas tocando samba e mpb. BH pode aproveitar a prata da casa do tambor mineiro ou pode insistir em copiar o modelo de fora. Cabe a cada um saber qual é a mão e a contramão, mas tb cabe a cada um tocar o que gosta e o que sente. Não quero conversão, quero que hajam alternativas.

O show com a minha banda serviu para eu me divertir com o evento. Chamei o Bresslau para tocar primeiro conosco pq ele sempre foi um dos que mais me deu força, diariamente falando. Justamente o cara que mora mais longe, na Alemanha, era quem mais estava perto neste blog e nas listas. Em seguida o Osmar, que anos atrás eu jamais chamaria por pura vergonha de dividir o palco com um gaitista tão bom, mas eu precisava exorcisar meus próprios demônios e convencer a mim mesmo do que eu tentava convencer a todos: de que a festa é maior que qq um que ia ao palco. E finalmente, meu suicídio gaitístico :-) de chamar o Carlini, para arrebentar no palco, mas como a festa é festa, um solo do Carlini logo no início já iria dar uma idéia para as pessoas do que haveria por vir.

Então o resto fluiu. A banda do Osmar tocou o repertório do Osmar, que é o repertório que todo gaitista pediu a deus: mark ford e madcat na veia. A Beth, o Fernando e o Carlini deram uma descansada na galera, Eisinger e Danuza puseram a casa abaixo depois de um momento inesquecível com um pout-pourri de forró e a banda do Fred fez o resto, com a sequencia tradicional do evento de gaitistas dando canjas a cada música.

Este show foi um sucesso absoluto. Apareceu no jornal, na tv, a casa lotou, vieram amigos, parentes, velhinhos dançando blues (nunca tinha visto isso em BH nos meus 15 anos de blues), a galera do pandeiro animadíssima - NUNCA DEIXE DE CHAMAR AS PESSOAS DO PANDEIRO PARA SUAS FESTAS, a casa encheu e deu tudo certo. Ponto, fim da sexta-feira.

Sábado, almoçamos da focaccia, recebi boas novas da Mari via Samir, que acabava de voltar de Buenos Aires, passamos na barbearia, agora na mão do Luiz (mais um sucesso. o projeto saiu das minhas mãos e foi para as mãos de um cara 10 anos mais novo do que eu, que ama blues de paixão. ele estará fazendo história do blues em BH 10 anos depois como estamos fazendo agora? eu acho que sim) e depois o pulo pro show do Loretta no Dalva.

O que aconteceu no Dalva teria sido relativamente normal, naquele esquema de que cada hora sobe um e toca, e foi muito legal a galera conhecer o Hélio, que já havia aparecido nas primeiras barbearias. Mas a partir de um momento perto do final, a gaita se impôs e tudo saiu do controle (depois fiquei sabendo que era uma tradição campineira) e a casa foi invadida por gaitistas tocando pelos corredores diante de uma platéia absolutamente pasma. Nunca em BH aconteceu isso. E o Zé tocando no palco. Cara, esperei 7 anos prá ver o Zé no palco. Foi um momento único e especial.

Depois o pessoal foi pro utópica mas não conseguimos acompanhar. E mais um tanto de coisas. Conversei rapidamente com algumas pessoas, mas eu sei que os processos levam tempo. O importante é que as pessoas vieram e se conheceram. É o que faz as coisas acontecerem. Não se faz um SBRAH da noite pro dia.

O ruim de inventar essas modas é que vc tem muito trabalho, mas o bom é que vc define os padrões. O cd do gaita-list sempre foi barato. Este ano ele foi barato e bem produzido. Capa legal, na caixinha, impresso. As pessoas não vão aceitar menos que isso. Sempre foi democrático, sempre foi inclusivo, sempre foi não-preconceituoso, sempre foi transparente. As pessoas não vão aceitar menos que isso para os seguintes.

E o Brasil está tendo seus eventos. O fórum no ceará propõe e realiza com sucesso um evento de alto nível, com a nata dos gaitistas e uma forte proposta social. Os BBFs ajudam a manter a união de uma das comunidades mais representativas da gaita do país. As pizzas com jams de Campinas estão ajudando tb a fortalecer a comunidade campineira. O encontro internacional em SP traz as fontes de fora e abre espaço para cada vez mais novidades, e o evento daqui abre espaço para as pessoas da lista tocarem tb. Festa da lista para a lista.

Fico feliz que tenha dado tudo certo, que 15 gaitistas tenham vindo a BH numa viagem cansativa de ida e volta num rápido feriado e fim-de-semana, para depois encararem uma segunda-feira cansados e de ressaca. Também fico feliz de ter tido gente como Zé Raimundo hospedando a galera em casa, a Ana Amélia fazendo o mesmo, gente me ajudando a divulgar, gente aparecendo prá foto no meio da semana, a Lud me ajudando incondicionalmente e eternamente, a galera do pandeiro envolvidíssima e mesmo os que apareceram só pro evento, eu sei que eles têm o pão para ganhar e o quanto pode custar isto, e todos têm sua importância no evento. Não tenho como agradecer a todos e corro o risco de não ser justo esquecendo de alguém. Não posso deixar de agradecer ao Melk e ao pessoal da Bends, foram generosos e ajudaram a viabilizar um momento e tanto.

No fim das contas, quase uma dezena de pessoas me pediu telefones de professores de gaita. As pessoas vão querer ver, as pessoas vão querer aprender, e vão querer tocar.

Quando eu tinha 20 anos, eu achava que a música boa era injustiçada e que raramente haveriam shows bons. Mas o Jimmy me mostrou que enquanto muito músico fica choramingando falta de espaço, poucos realmente arregaçam as mangas e correm atrás. Para estes, não vai nunca faltar mercado, por mais porcaria que esteja tocando por aí.

É por isso que neste fim-de-semana, eu tive o evento de gaita que eu sonhava que um dia acontecesse em BH. A gente teve esse evento pq a gente correu atrás, pq a gente mereceu. E pq tem muita gente boa querendo e fazendo acontecer. Por olhar para trás e pensar em quanto andamos para frente que eu acho que vamos chegar ainda muito mais longe no futuro.

SBRAH 2010. Meu mantra. Obrigado a todos. O Kenji sozinho não faz festival de gaita. Quem faz o festival são as dezenas de gaitistas tocando juntos no Dalva embaixo de um temporal.

7 comentários:

  1. Fiquei muito feliz que tenha dado certo a minha ida a BH. Já tinha desistido, achando que iria acontecer quando eu não estivesse no Brasil.
    Realmente, eu gostei muito, conheci gente nova e legal (e isso é que é foda, só conheci gente legal), me diverti à beça.
    SBRAH 2010, daqui a pouco está na hora de agitar a lista de novo. Prepara o Osmar, que ficou de pesquisar uns negócios.
    Abraço,
    Bresslau

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  2. Kenji, parabéns pela festa, fiquei feliz por todos os depoimentos enviados a lista. Infelizmente eu já tinha viajem marcada e paga qnd soube das datas do evento.
    Aos poucos a gaita vai crescendo nesse país, dia 5 eu lanço o novo Gaitanet, quando ele estiver completamente pronto será o maior site de gaita em português.
    2007 já começou incrível com essa festa do cd, ainda tem lançamento da Bends, encontro internacional e muito mais, agente se reencontra por lá.
    ABraços(avisa qnd tiver videos da festa no youtube )

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  3. O evento de sexta foi muito legal!
    E o show do Loretta com o Gaita-l foi mágico!

    Obrigado a todos!

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  4. Foi um prazer de partipar de todos os eventos Gaita-l.

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  5. Quem é Shellão???
    Hehe. ;-)

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  6. é o guitarrista do loretta, aquele pessoal que tocou no bar da dalva, naquele memorável noite chuvosa

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