segunda-feira, 30 de maio de 2005

blues autodestrutivo

cada um entende o blues de um jeito. o blues pode ser uma forma de vc extravasar seu ego, sua habilidade, pode ser a cura da dor, pode ser o motivo da dor, pode te fazer sofrer, pode te fazer feliz. eu acho difícil até entender o blues eu mesmo.

antes que algum garoto de 20 anos ou menos venha me chamar de véi e tentar resumir o blues a um ou dois estereótipos, deixe-me subir no alto da minha caixa de sabão e dizer aqui que eu amo o blues de coração. não digo que ame o blues mais que qualquer outra pessoa no mundo, mas meu amor é sincero.

o primeiro blues que eu ouvi se chama first time i had the blues do buddy guy num festival em berlim. já chorei por causa de muito blues. já curti muita mágoa. já fui muito triste, já me senti muito só. já toquei muita gaita chorando. já andei muito de madrugada na rua cheio de bebida na cabeça e achando aquilo o máximo do romantismo. já tive 20 anos tb, véi.

meu blues é autodestrutivo. é um jogo sadomasoquista comigo mesmo. é triste para que alguém que realmente entenda fique feliz e triste em ouvir. por isso que eu nunca larguei a música. por isso que aqui em casa tem um teclado que eu não sei tocar, um violão que estou aprendendo, gaitas que eu toco sem técnica (mas com um bom ouvido), e por isso que sempre simpatizo com músicos e me sinto à vontade perto deles, falando de música. No fundo, o meu blues é querer recuperar meus 20 anos, minha juventude strictu sensu, pq se aos 30 vc não é velho, vc tb não é ingênuo e romântico como quando tem seus 20. Eu rezo para chegar aos 50 como o Zé Raimundo, com amplo trânsito entre os de 20 e os de 30, sem abrir mão de tudo o que ele obteve com a vida.

quando eu lia o blog do eisinger falando das durezas da vida e dos livros do bukowski, eu me lembro de mim aos 20. eu lembro que eu amava o frio e a noite. Estranhos subterfúgios das pessoas que precisam lidar de alguma forma com alguns tipos de solidão. A solidão, a noite, a bebida e o blues.

alguns levam isso a sério e vão viver a vida do Jack Kerouac ;-)

quem é quem - mário valle e o jackivelô

o mário me ligou hoje, de manaus, prá me avisar que o porta-gaitas novo está para sair finalmente.

o caminho por onde o mário surgiu é longo e tem muita história nisso aí. o cara apareceu mandando uma música pro primeiro cd do gaita-l. tinha acabado de vir de manaus para estudar aqui em BH, e trazia uma animação fora do comum. dizia coisas sobre ir prá alemanha e fazer porta-gaitas. dê um pedaço de arame ao mário e ele moverá o mundo. Acho que gente como ele e o Bell sempre me deram a impressão de que haveria uma forma de viver em que o mundo fosse mais fácil, não pq tivessem nascido em berço de ouro, mas pela habilidade de ambos de driblar os reveses a seu favor. Isso para mim não pode ser ensinado, só se pode nascer sabendo, e eu queria saber.

a primeira vez que eu subi num palco foi com o mário. até então um misto de timidez e autocrítica me faziam acreditar que era muito mais difícil do que era. Mas foi ótimo, no estranho palco do Café e cultura.

depois ele fez o tal porta-gaitas. o primeiro modelo com o tempo afrouxou e acabei por parar de usá-lo, mas o modelo novo eu devo adotar em breve.

mário passou um bom tempo na alemanha e rodou uma boa parte da europa no melhor esquema mochileiro. mário é um cidadão do mundo. tá tocando rockabilly em manaus uma hora dessas. entregou cds do gaita-l em mãos pro milteau e pro brendan power, com a ajuda da Clara, que ainda vai ganhar um post neste blog tb... mário tem planos, sempre tem planos. e ainda vai voltar prá alemanha. foi, e ainda é um prazer conhecer o mário. aquele que te carcou atrás do armário ;-)

lançamento do salamandra no sesc pompéia

no meu cd do salamandra está escrito 1994. Deve ter sido em 94 mesmo que eu fui prá SP, quando eu peguei o show de lançamento do salamandra do blues etílicos no sesc pompéia. Foram só 11 anos atrás. Não havia Lud, não haviam outros gaitistas conhecidos. Havia um Kenji jovem e triste, sem namorada, bastante retraído e tímido, cdf, recém-entrado na faculdade, passeando em SP, dormindo na casa da avó que morava a uma quadra da estação brigadeiro de metrô. Nessa época eu ouvia muito blues, muita gaita, e andava sozinho por SP em busca de lojas de música e quadrinhos (andei umas 15 quadras a pé prá chegar na banca tiragem pq eu sabia que era na alameda lorena, mas não sabia em que altura).

foram nessas férias sui generis em SP que eu tentava conversar com minha prima Mona (ela nunca foi de conversar, mas sempre teve um estilo bacana, cabelo pintado, sempre gostei de cabelo pintado), lembro que peguei emprestado uma blusa africana verde com minha tia Marisa e fui pro show de blusa africana (nada mais justo). Era a época áurea do Blues Etílicos, num show com dois bateristas ao mesmo tempo e os solos do flávio me arrancavam lágrimas sinceras que só quem ama o blues de verdade entende o que é ficar feliz de chorar. Jovens de 20 anos são muito emotivos e românticos.

foi quando eu comprei um cd da zélia duncan (o primeiro) na benedito calixto e quando eu ouvi a gaita, eu imediatamente reconheci o timbre do flávio. e fiquei orgulhoso de conseguir reconhecer isso de ouvido.

queria ter fotos disso. ou pelo menos, a tal blusa africana ;-)

segunda-feira, 23 de maio de 2005

impressões do festival de blues no chevrolet hall e the hard times blues

cara, não gostei do show do Rod Piazza. Nem da banda. Eu sei que o cara é foda e que teoricamente a banda dele é do caralho, e eu fiz toda a propaganda colocando gás na galera mas no fim das contas, eu gostei mesmo foi da banda paulista Blue Jeans e das Chicago Blues Ladies.

a história toda foi o seguinte. O Samir e a Mari combinaram o aquecimento num buteco bacana chamado Buritis, mas como ele só abria 20:00, acabou que a gente foi prá um buteco do lado de uma borracharia, copo sujo, e juntou uma galera rara: Tarcísio, Mari, Zé, Samir, Édson, eu e um amigo do Samir. Essa prá mim, foi a melhor parte do programa, prá dizer a verdade. Papo bom, lembrando áureos tempos do Don Filippo.

Aí o pessoal foi pro Chevrolet Hall e eu fui buscar a Lud. O estacionamento do Hall tava 8 reais, o que já é um absurdo. Lá dentro, coca a R$ 2,50, kaiser a R$ 3,00 e outras estripulias. Na arquibancada encontrei a andréia, a hilmara, o ferrari, o tripa, o fred cardoso e a rodica. E o édson e o tarcísio. A Mari deu mais sorte e foi prá mesa com o samir, dri, osmar e zé.

Os dois primeiros shows foram com a Blue Jeans como banda de apoio para o Kenny Neal e as Chicago Blues Ladies, que apesar de quase não cantarem juntas, deram cabo do show com controle absoluto do palco, da banda e do público. Um banho de simpatia, técnica e diversão. E a Blue Jeans mandando ver, fiquei fã instantâneo dos caras. Até a Mari deu uma canja rápida no microfone, muito bacana.

Aï vem o show do rod piazza, lá pra uma e meia da madrugada. O pouco público do chevrolet hall começa a esvaziar, quando a banda aparece numa configuração de palco compacta e tocando sem PA. O Rod Piazza não devia cantar, e nem dar aqueles gritinhos agudos no microfone.

Depois de umas duas músicas, e de queimar o filme tocando duas músicas chatas sem PA, esvaziando ainda mais o teatro, o pessoal começa a tocar com som razoável. Só que com pouca gaita e muito pedido de "everybody say yeah". Um monte de gente comentou comigo que dar show prá pouca gente é meio broxante, mas sinceramente, acho que não é desculpa. A Honey Piazza toca um bocado de teclado, o baterista toca um bocado de bateria e o guitarrista toca um bocado de guitarra. E o Piazza, claro, toca um bocado de gaita, mas por algum motivo misterioso, eu achei o show realmente ruim, as músicas chatas e nenhuma virtuose realmente empolgante. Talvez o blues estivesse muito "branco", se é que vcs me entendem.

No final, quando a coisa estava começando a esquentar, o rod piazza descendo do palco prá tocar no meio do povo, ok, legal, bacana, eu já tinha estado do lado do Flávio Guimarães na Fábrica (o memorável show de 3 horas do blues etílicos em BH) e do Sugar Blue na andradas (outro memorável show de blues com 20 bandas locais de blues abrindo pro cara, incluindo uma agradável surpresa para mim de que o affonsinho toca um bocado de blues) e sei como isso é divertido, mas acho que eu já estava tão cansado do repertório rockabilly-balada do Rod Piazza que eu nem curti tanto assim.

Aí o show acabou, voltaram para uns dois BIS razoáveis, mas acho que já era tarde demais. E não rolou visita no camarim e ainda rolou stress entre o Osmar e um segurança, e outras coisas que nem vale a pena citar. Na saída, rápida foto da galera e a van do Rod Piazza com o Big Chico do lado, e quase ninguém prá pedir autógrafo ou o que fosse. Emendamos no tudão, que depois de ter saído na veja como "o melhor fim-de-noite de BH" vive lotado e cheio de patys e boys.

Cheguei em casa lembrando de uma velha conversa minha com o osmar, de muitos anos atrás, quando eu disse para ele que eu não gostava do Piazza pq eu achava as músicas dele ruins, e ele me dizendo que eu não tinha ouvido os CDs certos. Piazza e seus Mighty Fliers ganharam muitos WC Handy awards então eu posso supor as seguintes hipóteses

- existe um grande mercado nos EUA para o som rockabilly-balada do Piazza
- a banda não estava num bom dia. Isso acontece.

Ainda acho que é a primeira. Acho que o americano não ouve blues do jeito que a gente ouve. Não achei o Piazza muito melhor que muitos gaitistas daqui do Brasil. E nem estou falando dos "top" não, estou falando de gaitistas bresileiros quem nem têm cd gravado. A própria Blue Jeans, que apesar de ser uma banda antiga de blues em SP, nem é reconhecida como era o blues etílicos anos atrás, foram muito mais profissionais, divertidos e com mais feeling que os mighty-not-so-mighty flyers.

A grande lição para mim disso tudo? Várias. Primeiro que os gaitistas não podem parar no tempo (ou podem, mas se acomodem com isso), Que os gaitistas brasileiros precisam parar de endeusar alguns gaitistas estrangeiros pq o que temos aqui não deve nada ao pessoal lá fora. Que BH não enche show de blues em casa grande (e restringir as mesas e distanciar o público do palco foi uma má idéia do Hall neste aspecto tb)

Eu lembro de ter conversado com o Jimmy outro dia sobre este festival e ele me perguntou quais seriam as atrações locais. Eu falei que de festival, só havia o nome, pq era 1 dia de show em BH e nenhuma banda daqui. E o Jimmy comentava "de que adianta um festival se vc não tem a oportunidade de trocar idéias?". E é mesmo. Que coisa mais broxante, festival de blues sem canja, sem banda local, sem improviso, com o público distante dos músicos, exceto quando eles mesmos descem do palco para ver o público.

Uma pena. Fiz tanta propaganda do Rod Piazza que nem tenho mais coragem de chamar o povo na lista prá ir ver o show, sob pena de virar o menino que gritava lobo. Eu queria sinceramente arregaçar as mangas e fazer organizar um festival de blues em BH, mas a cidade está tão parada e as bandas boas estão tão ausentes que é desanimador.

O loretta tá sem o pedro. O Osmar tá sem banda. O Deja Blue tá parado. O Samir tem uma banda que eu estou esperando ver. O Édson tá ocupado. O Nasty dizem que está com repertório ruim. O Alexandre Araújo sumiu (eu não era muito fà dele, mas o Osmar e o Diogo chegaram a tocar com o cara). O Black Coffee terminou antes que eu pudesse ver. O Bruno foi pro canadá. Só o Leandro está fazendo alguma coisa. O festival de blues do mineiríssimo foi caindo até desaparecer. Os novatos não aparecem. Nem do Affonsinho eu tenho ouvido falar. Aguardei que surgisse a "próxima onda" do blues em BH, mas a onda não vem.

É uma pena. Hard times everywhere I go

terça-feira, 17 de maio de 2005

quem é quem - diogo farias

Um belo dia apareceu um cara na lista do gaita-l propondo trocar cds de mp3 de gaita. Na época, eu tinha feito meus cds de mp3 para poder emprestar para outros gaitistas de BH no que eu chamava de "equalização de conhecimento". Não adianta vc conhecer um monte de gaitistas se eles não sabem do que vc está falando, então minha idéia na época era passar o mais rápido possível daquela fase inicial de ficar aplicando coisas aos pouquinhos até a coisa chegar na coisa realmente interessante.

Mas aí eu topei. O cara me mandou 1 cd com um monte de coisas, e eu mandei meus 10 de volta. Pensei com meus botões, "é um garoto que acha que tem mp3 achando que napster é lento demais". Eu costumava ser bem convencido naquela época e achava realmente que sabia muito mais que a média. Passou um mês e como o menino não respondeu, eu pensei "coitado, ele não tem mais o que mandar". Aí chega um pacote com 15 cds de mp3, só de coisas que eu não tinha mandado, com capas scaneadas e tudo. Aí eu fiquei assustado.

Só recapitulando: 10 cds de mp3 são mais ou menos 8 GB de mp3.

Era eu agora quem não tinha mp3 para mandar.

Anos depois o menino veio para BH, animadíssimo pq ia fazer uma especialização em cirurgia de mão e ia morar aqui. Foi quando eu descobri que o menino na verdade era um cara da minha idade (ou ligeiramente mais velho) casado e que tocava gaita absurdamente, e tinha um conhecimento de microfones, amplificadores, gaitistas, técnicas, fora do normal. Em poucos meses o cara já estava tocando na cidade.

Fora isso, coisas que devo ao diogo: o workshop do sweet mama, o workshop de troca de palhetas e manutenção, dicas inestimáveis de regulagem de amp para gaita, o microfone bullet atual que uso, toneladas de músicas bregas (o cara é expert em música brega), a Michele - que é a mulher dele, uma figura fantástica - e meus pulsos, que seriam diagnosticados como LER quando na verdade não era LER, pq ao contrário do ortopedista mercenário, ser examinado por um médico cirurgião de mão que está fazendo especialização com o Pardini é literalmente a salvação da lavoura. Ou seja, um bocado de coisa. O sujeito tinha energia suficiente prá me fazer desconfiar se ele tinha um reator embutido no tórax ou coisa do tipo.

Diogo e Michele ficaram mais ou menos um ano aqui em BH, mas foi um ano muito bom. Tenho muita saudade dos dois e estou esperando ansiosamente pelo carnaval do ano que vem em Guaramiranga. Vou juntar a grana e o tempo que não tenho para ir nesse treco. Eu brinco dizendo que gaita é igual Rotary, vc se sente em casa em qualquer lugar.

o pignose e o astatic

nos áureos tempos do dólar 1:1, no início do plano real, eu comprei meus dois brinquedos gaitísticos mais bacanas: o microfone astatic jt30vc e o amp "legendary" pignose, que na verdade é um amp de guitarra para estudo, porém útil e bonitinho o suficiente para impressionar as garotas.

na época, eu devo ter pago pelo dois, novos, mandando importar dos states e pagando os 60% de imposto, uns 250 reais. Uma baba.

de lá prá cá, o pignose tem ficado parado e o jt30vc me prestou bons serviços (agora ele precisa de nova manutenção. anos atrás ele teve a primeira manutenção dele com o luis fernando lisboa, quando precisei trocar a cápsula. dica: não leve seu bullet para churrasco, pq vc, tonto, vai deixar ele cair no chão e o conserto não sai barato)

a escolha do jt30vc foi simples. qual o bullet mais barato com controle de volume que tinha na época. confesso que fiquei meio decepcionado quando descobri que o som dele era limpo e que não parecia muito diferente de um microfone de voz normal (na verdade eu descobri anos depois a leve distorção dele quando estava tentando gravar voz com ele: não serve). Na verdade, todo gaitista que vai comprar um bullet, ou a maioria deles, quer aquele som típico do green bullet do flávio guimarães, então compre um green bullet, que como diz sabiamente o ferrari, tem som de green bullet e tudo o que vc tocar nele vai ficar com som de green bullet.

mas pelo menos o jt30vc é ergonômico e lindo de morrer. Curiosamente, um dos meus sites favoritos de gaitista é o www.jt30.com, que tem um conteúdo interessante e original (inclusive vou copiar descaradamente algumas idéias deles publicando aqui, mais tarde, uma lista de trapaças gaitísticas, ou o que eles chamam de street harp). Hoje ele anda meio aposentado, depois que eu comprei um bullet com cápsula de telefone do Diogo Farias (mais tarde, neste mesmo blog, eu vou explicar quem é o Diogo Farias e a Michele e porque os dois são indispensáveis), que eu uso regularmente no café, depois que eu aprendi a usar a tal pedaleira-de-pobre, o zoom 505 II (era mais barato que comprar dois pedais separados quaisquer)

já o pignose, eu juro que tentei usar, ele até funciona bem em estúdio (eu levava ele pro estúdio prá ensaiar com o deja blue e microfonava ele) pq ele é pequeno e leve, mas vou te falar que prá tocar onde quer que seja, ele é baixo e a panela pequena não ajuda nos graves, apesar dele ter uma distorção natural legal. E sinceramente, para estudar em casa, nem vc nem seus vizinhos precisam de um amplificador (embora meu vizinho merecesse). Como ampli, eu uso um fender transistorizado de 15 que funciona muito bem, tem drive e reverb, tudo o que realmente é preciso para um gaitista crescer forte e saudável, ao mesmo tempo em que ele guenta o tranco dos guitarristas egocêntricos que jogam o volume deles no talo (conheço um monte deles)

qual a lição disso tudo? bem...

primeiro eu tenho a minha teoria de que gaitista gosta de brega, e quando eu falo brega, eu falo do pós-guerra. Aliás, até seria uma boa tentar criar a "galeria dos tipinhos típicos" da gaita, classificando gaitistas por semelhança e influências, mas todo rótulo é ruim, e rotular gaitistas ainda parece ser uma má idéia. Mas voltando ao brega, gaitistas usam terno, sapatos engraçados (leia-se Johhny Rover), gostam de equipamento vintage (amps valvulados, mics bullet), chapéu dos irmãos-cara-de-pau, óculos escuros e whisky. Tirando os gaitistas malucos, a maioria parece estar atrás do Sonny Boy Williamson e dos Little Walter. Bem, não há nada de errado nisso. Fãs de mangá se vestem de sailor moon nas convenções, é só mais uma forma de paixão e diversão.

segundo, equipamento nunca fez gaitista nenhum, mas todo gaitista quer ter um equipamento bacana e conferir por sí próprio se existe um atalho pro "timbrão". É, não tem. Tem as trapaças, mas a busca pelo timbrão segue a vida inteira. E cá prá nós, o equipamento nem faz tanta diferença assim, tirando aqueles pedais malucos. Green bullet faz diferença, isso é verdade, mas o resto? Amp valvulado, outros bullets... do que eu vejo por aí, sinceramente, o que faz diferença mesmo é, pasmem, a mesa ;-) sim, a mesa onde se mixa e equaliza tudo. Tem mesas e mesas. O som do lugar, o que o Jimmy chama de "ambience", isso faz mais diferença. Agora, independente disso tudo, todo gaitista sabe disso mas não se importa. O mic bullet e o amp valvulado (ou o v-amp) são como belos sapatos nos pés de mulheres inseguras. Equipamento em geral é muleta, serve prá dar confiança, ou mesmo para chamar um pouco de atenção ao gaitista mostrando como ele é "especial" que até precisa de um microfone e um amplificador diferente de todos os outros da banda. E tb não tem nada demais nisso, se o processo de auto-afirmação não persistir o resto da vida. Todo gaitista começa inseguro e gastar no equipamento que no final não faz tanta diferença assim (ou pelo menos tanto quanto o gaitista queria) faz parte do processo de amadurecimento. O que não pode acontecer é o cara ficar travado o resto da vida quando alguém chamar o sujeito prá canja e ele recusar pq foi pego de surpresa sem sua parafernália.

Músico nenhum devia depender de equipamento. Eu me lembro de um email do benê no gaita-l em que ele falava algo do tipo "cara, o sonny boy williamsom tocava na marine band mais barata e fudida e desafinada da época dele, e vcs estão choramingando por uma gaita que precisa de ajuste". O cara está totalmente certo. Purismo demais é perda de tempo.

quarta-feira, 11 de maio de 2005

quem é quem - nadine

achei justo começar esta série do "quem é quem" do mundo da gaita pela Nadine, pq ela é uma das figuras que cedo ou tarde todo gaitista vai conhecer e talvez ela nem saiba exatamente o quanto ela está inserida nesse mundo gaitístico e o quão importante é o seu papel nessa história.

além do mais, todo mundo já sabe quem foi Little Walter.

os livros gostam de atribuir os grandes feitos aos donos de empresas, aqui no caso seria falar do dono da hering, como o grande o sujeito que decide os rumos da empresa, mas eu não vou cair nessa bobagem e vou falar de quem realmente trabalha com isso todos os dias anos a fio.

a Nadine trabalha na Hering há não sei quantos anos, talvez o pessoal mais próximo da fábrica da hering em Blumenau saiba dizer isso, leia Bené, Ulysses e Ronald. A primeira vez que eu conversei com ela ao telefone foi para encomendar minha primeira dúzia de gaitas hering. Na época, a hering tinha acabado de lançar a hering blues (e a golden e a black, que são tudo a mesma coisa em embalagens diferentes) e cada uma custava R$ 11. Ou seja, comprei R$ 132 em 12 gaitas cada uma num tom. Eu lembro de ainda estar na UFMG nessa época, então deve ter sido em meados de 96. Muitas dessas gaitas eu ainda uso semanalmente, como a Ab e a Bb, e ainda não desafinaram. Dessas gaitas todas, acho que só a gaita em D foi pro saco, depois de 10 anos tocando com elas. Ou seja, são gaitas de boa qualidade. Hoje em dia, com R$ 132 eu compro duas gaitas e olhe lá.

a segunda vez que eu falei com a Nadine já foi mais legal, pq eu estava indo visitar a fábrica da Hering em Blumenau. Eu estava de férias em Floripa e fui passar na fábrica para conhecer. O Benevides veio de Curitiba só para me ciceronear na fábrica, e depois tivemos uma conversa sobre a hering que vale um post só prá ele, pq me fez repensar muita coisa sob um nova perspectiva. Foi quando eu finalmente vi a cara dela e pude ver ela conversando com o Benê e lidando com coisas como gaitistas que encomendam cromáticas opus feitas à mão pelo Ronald e devolvendo faltando partes e pedaços reclamando com a fábrica e pedindo reposição. Trambiqueiros gaitistas do país todo.

a terceira vez foi na homenagem do Ulysses em Santos, quando eu precisava de uma armadura de cromática lisa para gravar a mensagem pro Ulysses. O fim do ano é quando vários eventos acontecem e muita gente entra em contato com a Hering para pedir favor ou sei lá o que. Eu sei que faltando alguns dias para o evento, a Nadine voltou de férias e fez questão de me mandar as placas por sedex sem custo nenhum pq o homenageado era o Ulysses. E eu sei muito bem que sedex de Floripa prá BH não sai barato e que Dezembro na fábrica é uma loucura.

a quarta foi para agradecer pelas placas, pq se alguém do lado de lá mandou por sedex que custou uma fortuna para vc, o mínimo que vc faz quando recebe é avisar que chegou a tempo e agradecer, logicamente. O curioso foi que nessa hora, a Nadine ficou realmente agradecida por alguém ter se lembrado que ela não tinha a menor obrigação de me quebrar aquele galho e ter tido esse mínimo de consideração de ligar de volta. Ou seja, qualquer um que lide com vendas já é meio calejado com a falta de educação alheia. Inclusive ela me contou que naquela mesma semana, algum gaitista (que eu não vou citar o nome pq eu conheço o cara) tinha ligado para ela xingando a hering por não patrocinar o evento dele. Nada como diplomacia de caixas de bombons embalados em arame farpado.

bem, a visita à fábrica da hering está bem registrada no site do gaita-bh e eu realmente recomendo a todo gaitista uma visita lá, para abrir a cabeça, saber como as coisas são realmente e conhecer a fantástica fábrica de chocolates gaitística.

os idealistas do blues

quando vc lida com gaitistas por anos, vc lentamente vai conhecendo os idealistas do blues. são aqueles caras que gostam tanto de blues que não se contentam em ir aos shows de blues e montar suas bandas, mas que começam a organizar seus próprios shows e que começam a investir na divulgação visando atingir o grande público.

quando eu mantinha meu site de bandas de blues brasileiras, era mais ou menos isso que eu queria. quando o primeiro cd do gaita-l saiu, foi a mesma coisa. essas pessoas estão espalhadas por aí e cada uma vale seu peso em ouro. Normalmente são elas que fazem as engrenagens girarem, ainda mais fora do eixo cultural rio-sp.

antigamente eu achava que o blues devia chegar ao grande público e que a mídia era a grande culpada por massificar a população com doses cavalares de música pop, axé, sertanejo e etc, tirando o espaço de todo o resto. Depois eu comecei a pensar que talvez o povão não estivesse realmente interessado no blues. E finalmente, hoje, eu prefiro ouvir blues em lugares mais reservados e menores mesmo. Acho que o que aconteceu foi que minha opinião foi convergindo até onde meu esforço idealista poderia trabalhar, que é tentar organizar pequenos shows acústicos em lugares especializados para um público que quer ouvir aquilo.

quem são os outros idealistas do blues? bem, quem faz a roda girar tem seus interesses e eu te digo que todos estes interesses são completamente legítimos desde que o resultado final seja bom. eu agradeço a deus por haver um Chico Blues organizando os festivais anuais no sesc pompéia, que ainda são os eventos mais importantes de gaita do país. agradeço tb por haver um Leandro Ferrari e um Zé Raimundo para organizarem em menor escala, mas com muita competência o Minas Harp aqui em BH. agradeço pelo Ari Batera, pelo Aílton Rios, que são dois verdadeiros idealistas que amam o blues e a gaita e que dedicam boa parte de suas vidas nisso. O Morenno e o pessoal do gaita-bs (baixada santista), hoje o grupo mais ativo e unido de gaitistas do país. Roberto Maciel, do Ceará. Helton Ribeiro. Rafael Leão do SBB. E deve ter mais gente que está lá mexendo os pauzinhos por trás das cortinas fazendo as coisas acontecerem.

quando a motivação não é grana (quase nunca realmente é, pq show de blues nunca são lucrativos), os idealistas do blues trabalham ou para divulgar seu trabalho, ou para divulgar a gaita ou porque trabalhar 8 horas por dia não seja a real fonte de satisfação na vida dessas pessoas. Mas todos eles já sabem o que querem fazer quando se aposentarem, isso SE eles se aposentarem ;-)

charlie musselwhite

numa noite muito chuvosa de quarta-feira, num show que praticamente não foi divulgado, no mineiríssimo, que fica do lado da UFMG, eu assisti o Charlie Musselwhite tocar na minha frente para uma platéia de umas 20 pessoas. Por sorte, eu estava estudando (ou jogando truco) na UFMG até tarde e consegui uma carona até perto, acho que com o Sapão. Também não lembro como fiquei sabendo na época, mas acho que eu já procurava ficar razoavelmente bem informado dessas coisas naquela época.

eu cheguei e de conhecido tinha só o Leandro e acho que meu primo Rodrigo, não lembro se ele estava lá (mas ele gosta de gaita também). O buffet ainda estava servindo e achei bom negócio fazer um prato só de torresmo prá comer enquanto assistia (eu já tava meio duro nessa época). Lembro que fui sozinho, afinal não tinha namorada nem amigos gaitistas naquela época, e meu melhor amigo na época (o Bell) não pôde ir.

fiquei muitos anos depois sem comer torresmo de novo.

era aniversário do baixista da banda e o Musselwhite é a simpatia em pessoa, com aquele sorriso maroto constante que ele tem na cara. Note que o Musselwhite em CD e o Musselwhite ao vivo são coisas completamente diferentes, e o timbre dele é algo fenomenal. Foi um dos melhores shows de blues que eu já fui na vida. Nessa época em andava com um saquinho de gaitas diatônica onde eu guardava os autógrafos de gaitistas (ainda tenho esse saquinho e ele está imundo pq eu tenho medo que as assinaturas sumam na lavagem). Charlie Musselwhite foi o primeirão.

aqui em BH isso é meio comum, bons shows passarem completamente batidos por falta de divulgação. Já perdi um show com The Fabulous Thunderbirds onde o Leandro dividiu o palco com o Kim Wilson. Bem, eu posso esperar. Já esperei tanto pelo Rod Piazza e agora ele está aqui...

marcelo batista, leandro ferrari, primórdios da internet e revista blues and jazz

quem viveu em BH na década de 80 não tinha internet e só tinha duas opções de gaitistas conhecidos para pegar aulas ou consertar gaitas: marcelo batista e leandro ferrari.

marcelo batista naquela época só dava aulas de cromática, e ainda é um dos melhores consertadores de gaita que eu conheço. conheci o sujeito por acaso no minas shopping, numa terça-feira, quando ele tava tocando na praça de alimentação. Foi a primeira vez que eu ouvi uma gaita realmente bem tocada ao vivo e que eu fiquei com a nítida impressão que tocar gaita poderia ser algo complexo. Foi quando eu entendi o que é o timbre. Fui conversar com o cara e vi que ele tocava com dois pedais, um equalizer e algum tipo de reverb. Também foi a primeira vez que eu considerei usar algum tipo de pedal (meses depois eu estava comprando um pedal delay da ibanez usado de um cara em Sabará). Nunca peguei aula com o marcelo, mas nas poucas vezes que fui em sua casa, ele fez o tradicional workshop dele mostrando tudo o que ele sabe e o que ele toca.

já o leandro eu realmente não me lembro quando conheci ou como. eu lembro que quando eu conheci, foi muito bacana pq o pouco que a gente sabia a mais de gaita era muito próximo, e às vezes a gente só sentava prá conversar sobre gaita. Acompanhei a evolução do leandro desde quando ele tocava no blues and company, na época do blue bar (que eu nunca fui, infelizmente, foi o único bar temático de blues em BH que durou alguma coisa), passando depois pelo mandinga blues com o ari e o fred jamaica e mais tarde pelo nasty blues, jam pow até chegar no trabalho que ele tem hoje com os compadres, batrak e garage da caza (sic) bluesband

nessa mesma época, que eu conheci o leandro, o madcat tinha vindo ao brasil no nescafé e blues e para a minha felicidade, os shows dele com a shari kane foram transmitidos na TV. Cheguei a gravar a fita e a emprestar pro Leandro, mas ele emprestou a fita prá um amigo de outra cidade que perdeu... enfim, no dia em que eu realmente quiser essa fita, eu encomendo com o Chico Blues. Bem, quando vc é iniciante, ouvir madcat é um choque ainda maior (anos depois eu consegui ver um show dele com o Osmar e o Zé Raimundo na Privilege de Juiz de Fora) e eu encomendei imediatamente o cd "key to the highway" dando telnet na cdconnection.com, que era a boa loja de importados da época (na época a microsoft ainda não tinha browser e eu ainda usava netscape e mosaic)

antes disso, quando eu entrei na UFMG em 94, os alunos tinham direito de manter uma página pessoal na web, o que era uma verdadeira raridade e um privilégio na época, e eu montei o que eu acho que foi o primeiro site de bandas de blues brasileiras na web. Antes disso, eu só conheço o site do Renato Semmler (los mocambos) do Blues Etílicos. Renato Semmler é o primeiro blueseiro que eu conheci pela web. Trabalha até hoje como físico nuclear mas tb é gaitista e tem uma banda que um dia eu ainda vou assistir, se deus quiser. (só fui conhecer o semmler pessoalmente em SP poucos anos atrás, praticamente uns 7 anos acho depois de conhecê-lo pela web. antes disso eu não sabia nem como era a cara dele)

Era uma época em que eu já assinava a Blues and Jazz, que chamava black and blues ou coisa do tipo e era editado como um encarte de 4 páginas em papel normal (não couché como é hoje) usando apenas azul e preto na impressão. E tb já ficava pinicando bandas pelo correio pedindo releases para colocar no site. Foi quando eu ganhei camisas do mandinga blues, willie brown, ostreiros em blues, misterjack, baseado em blues, e os respectivos cds. Também recebia dezenas de fitas k7 de bandas menos conhecidas como a papa charlie de brasília e até uma fita de vídeo do bando do velho jack, do mato grosso do sul. Foi a época em que eu pensava sinceramente que os fãs precisavam batalhar por mais espaço pelo blues que queriam ouvir. Bem, eu continuo acreditando nisso, mas de uma forma bem menos apaixonada e bem menos romântica, acho.

terça-feira, 10 de maio de 2005

quem é o Kenji, gaitisticamente falando

eu já gostava de blues antes de tocar gaita. meu irmão trabalhava na biblioteca do instituto goethe para pagar o curso de alemão e a biblioteca emprestava vinis e fitas k7. Peguei uma fita que tinha gravações de um festival de guitarras em Berlin com Baden Powell e Buddy Guy em início de carreira. Peguei por causa do Baden Powell, mas foi quando eu conheci Buddy Guy em sua melhor forma, e curiosamente, meu primeiro blues se chama "First Time I Had The Blues". Daí a coisa foi só piorando pro meu lado. Consegui comprar esse CD de uma loja no japão, quase 10 anos depois. Custou uma fortuna e levou meses para chegar, mas para mim é um cd que significa muito e fico feliz de ter podido comprá-lo.

comecei a tocar gaita aos 14 quando peguei catapora e fiquei de cama por um bom tempo. Meu pai tinha me dado uma velha yamaha tremolo e meus amigos na época tocavam violão. Querendo entrar na jogada, peguei o primeiro instrumento musical que tinha me aparecido na frente. Antes disso, eu já tinha brincado um pouco com um piano da casa de um tio meu, então já tinha uma noção mínimas de onde estavam as notas musicais. Eu me lembro até hoje que eu pensava "se eu tocar isso aleatoriamente por tempo suficiente, eu vou acabar gravando na cabeça onde está cada som". Seja por isso ou não, acho que tenho um ouvido até bom e tenho facilidade para tirar melodias fáceis de ouvido.

então veio a fase típica do gaitista que não tem banda: querer tocar e aparecer de qualquer jeito, caçando todas as rodas de violão possíveis. Tentava tirar os blues do Sonny Terry, que tem os riffs mais rurais e mais simples e tentava tocar em toda roda de violão que aparecesse. Sem uma educação musical formal, comecei a prestar atenção nas posições do violão e a criar uma "lógica" sobre como acompanhar músicas no violão, ou seja, ao contrário do que seria normal num instrumento de solo como a gaita, eu comecei a tocar gaita para acompanhar o violão e eventualmente fazer um solo ou outro entre as partes da música. Essa fase me foi especialmente útil para aprender a tocar mpb e rock nacional e ter algumas "jogadas ensaiadas" na manga nos churrascos.

nessa época, tb tinha uma locadora de CDs na Som Alternativo do gaitista do It´s Only Rolling Stones. Quem ficava na locadora era a namorada dele e eu aluguei quase tudo de blues e gaita que tinha lá. Estava saindo da minha fase de ouvir rock progressivo para começar a ouvir blues. Muitos daqueles CDs eram emprestados para a Gerais FM para compor o repertório do programa de blues deles, às quartas à noite, acho, que eu ouvia e gravava religiosamente. No entanto, os melhores CDs nunca estava alugáveis, até que um dia o dono da locadora apareceu por lá, sabendo que eu era "o menino que alugava os cds de gaita". Foi quando o sujeito me chamou prá ir no escritório e me passar "o que não era alugável".

Na sala do que "não era alugável" estava um mic bullet e um pignose (eu comprei um de cada igualzinho) e cds como o "get harp if you want it" e o "here we go" do Ford Blues Band. Anos depois eu comprei os dois. O "Here we go" me custou algo que hoje seria uns 60 reais e levou 3 meses para chegar da alemanha, pois não era vendido nos EUA naquela época. Esse cara, cujo nome não me lembro, provavelmente foi um dos caras mais importantes para mim em termo de abrir as portas do que havia de gaita.

aos 18, conheci o Márcio, que era um dos maiores fãs de blues que eu já conheci. Completamente autodidata, o cara tocava guitarra de blues com paixão, e era excepcionalmente bom com slide. Gostava muito de Celso Blues Boy (tinha todos os vinis) e todo fim-de-semana eu pegava o metrô até o Eldorado e ia tocar na casa dele. Acho que nunca conheci alguém que gostasse mais de blues que ele, e olha que eu conheci MUITA gente que gosta de blues. Fui no casamento do Márcio e depois ele se mudou para Venda Nova, quando perdi o contato com ele.

na época de faculdade, conheci o Hugo, que foi clarinetista solo da filarmônica da Clóvis Salgado e o Léo Knegt, que tocava guitarra e banjo. Chegamos a tocar alguma coisa de bluegrass e alguma coisa mais jazzy. Foi quando eu corri um pouco atrás de bossa nova e standards do jazz. Também foi quando eu conheci o Sandro, que era vocalista de uma banda chamada Bândida e que tb era cabelereiro no salão pedrinho perto da minha casa na Cidade Nova. O cara cantava um bocado e chegamos a tocar alguma coisa juntos, mas nunca a coisa engrenou além disso. Foi a mesma época em que cheguei a aprender rudimentos de partitura e a fazer um pouco de coral.

no fim da faculdade, fui convidado para tocar com uma banda de rock que nunca teve nome e vocalista fixo, pelo baixista Lucas Zallio. Apesar da banda ser de ótima qualidade, infelizmente não durou mais que um ano de ensaios regulares no Telles. O repertório era hard rock (creedence, steppenwolf, led e deep purple) e foi uma ótima experiência para aprender a tocar em banda e principalmente a tocar em estúdio com distorção de ganho e drive. Nessa época comprei um amplificador transistorizado de boa qualidade de um gaitista de Campinas, com reverb e distorção leve de ganho.

mais ou menos nessa época, o gaita-l fervilhava e o Gaspar Vianna disponibilizava mp3 da coleção pessoal dele num servidor de ftp e eu ia pegando tudo de madrugada no serviço. O gaita-bh engrenou no ano em que eu editei o primeiro CD do gaita-l, que teve uma ótima repercussão e foi quando eu comecei a formar um círculo de amizades de gaitistas do país inteiro, e principalmente de BH. Gaspar e Clara vieram a BH e trouxeram toneladas de informação, músicas, vídeos e histórias, que me fizeram perceber mais uma vez que havia um mundo de informação de gaita que eu não conhecia (e a cada dia que passa, sinto que conheço cada vez menos)

junto com o fim da banda de rock, montei o Deja Blue, que anda meio parada, mas que rendeu bons frutos. No início foi uma novela para arrumar baixista, mas o resto da banda toda era boa e se entendia bem, num repertório mais soul, muito parecido com o repertório do Loretha Funkenstein, mas com menos virtuose que essa última.

finalmente, quando o Deja Blue deu uma esfriada com a saída do cavanha, que era o guitarrista, e com o emprego novo do juliano (baterista) que exigia dele constantes viagens, o Max me chamou para tocar regularmente no café do Letras e Expressões, onde todo toda semana (ano passado cheguei a tocar duas vezes por semana sempre, mas é bem exaustivo. Uma vez por semana é o suficiente), para tocar o repertório de british pop e indie rock. Recentemente, resolvi experimentar alguns efeitos simples de distorção como flangers e harmonizers para mudar um pouco a identidade da gaita nesse repertório, seguindo uma tendência que vêm acompanhando gaitistas como Rodrigo Eberienos e Leandro Ferrari, que por sua vez seguem uma tendência estabelecida pelo Madcat e pelo Paul De Lay

continuo participando das listas de discussão, seja o gaita-l, o gaita-bh ou o orkut e editando anualmente os cds do gaita-l, que agora se concentram mais no fim do ano. O primeiro CD não teve festa de lançamento, o segundo teve aqui em BH (a primeira vez que eu tentei organizar alguma coisa nesse sentido, e foi uma loucura extenuante e incrível), o terceiro no RJ organizado pelo Gaspar Vianna, o quarto não teve lançamento e o quinto foi em Santos, organizado pelo pessoal do gaita-bs, coordenados pelo excepcional Morenno e com a ajuda inestimável da Lu Vaz, e teve direito à homenagem ao Ulysses Cazallas. O sexto, se depender de mim, vai ser em BH ou em Macacos, show acústico em lugar menor. Vamos ver como fazer.