terça-feira, 11 de julho de 2006

Indicação do Eisinger

Mas já que ele não posta aqui, posto eu.
TRATAMENTO DE SOPRO

Instrumentos como flauta, saxofone e trompete influenciam músculos do rosto e posição dos dentes das crianças e podem ajudar a tratar lábios flácidos e queixo para a frente , entre outros problemas
Criatividade, sensibilidade, disciplina, capacidade de improviso, formação cultural. Os pais que matriculam seus filhos em aulas de música costumam conhecer os benefícios que a atividade traz em relação a esses tópicos. O que nem todo mundo sabe é que, se o instrumento for de sopro e, caso usado continuamente, pode trazer uma vantagem extra: ajudar a corrigir certos desvios dos músculos do rosto, que, por sua vez, influenciam a posição dos dentes.
Queixo projetado para a frente ou para trás e lábios flácidos, curtos ou separados são exemplos de problemas que podem, em alguns casos, ter uma melhora com o uso desses instrumentos.
"Os instrumentos de sopro trabalham a musculatura da face e podem exercer influência sobre a posição dos dentes. Em algumas crianças, eles ajudam a melhorar determinados desvios miofuncionais [relacionados ao funcionamento dos músculos]", afirma a odontopediatra Maria Cristina Ferreira de Camargo.
A dentista, que atende em consultório há mais de 30 anos e é autora de pesquisas sobre o crescimento da face, decidiu observar quais músculos cada instrumento de sopro trabalha e de que maneira ocorre essa ação. A partir disso, passou a indicar a atividade a alguns pacientes como coadjuvante no tratamento.
Para Eduardo Felipe Fernandes Pereira, 9, que tinha o hábito de respirar pela boca, ela prescreveu a gaita, "uma forma lúdica de estimular a sensibilidade, o toque e a percepção dos lábios". "Ele ficava sempre de boca aberta. No início, tocava a gaita mais por obrigação, mas hoje ele adora e vê como brincadeira. A respiração dele já normalizou", conta a mãe do menino, a auxiliar de odontologia Misleine Pereira, 27.
A fonoaudióloga Irene Marchesan, diretora clinica do Cefac (Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica), de São Paulo, confirma que os instrumentos de sopro funcionam bem para casos como o de Eduardo. "Eles fortalecem a musculatura de sustentação da mandíbula e ajudam a pessoa a treinar manter a boca fechada. Muitos fonoaudiólogos indicam exercícios com bexigas, apitos e línguas-de-sogra, mas, se o paciente se interessar por música, o instrumento de sopro é uma atividade mais continuada, que incentiva a criança a fazer por mais tempo", diz.

Piora
Da mesma forma que trazem benefícios em alguns casos, os instrumentos de sopro podem agravar -ou impedir que melhorem - certos desvios já instalados. Assim, crianças com tendência a mordida aberta (quando os dentes da frente não se tocam) devem evitar o clarinete, o saxofone, o oboé, o fagote e a corneta, de acordo com Camargo, já que os movimentos realizados podem piorar o afastamento entre as arcadas dentárias.
Isso não significa, no entanto, que quem não tem nenhum problema vá apresentá-lo após tocar flauta ou saxofone, por exemplo. "Se você tem uma boca de formas corretas e com uma musculatura equilibrada nada vai acontecer. O problema é quando a pessoa já apresenta uma deficiência e toca sistematicamente um instrumento que ratifica aquilo", diz a dentista.
A fonoaudióloga Irene Marchesan lembra que a interferência dos instrumentos sobre a musculatura e o crescimento ósseo ocorre apenas na infância e na pré-adolescência. "Isso não vale para a idade adulta, quando já terminou o crescimento do indivíduo. O último pico de crescimento ocorre por volta dos 12, 14 anos", diz.
O dentista José Fernando Castanho Henriques, professor titular da USP (Universidade de São Paulo) e consultor da Associação Brasileira de Odontologia, afirma ainda que os efeitos dependem da freqüência, da intensidade e da duração do uso do instrumento. "Se a pessoa treinar só de vez em quando e não usar muita intensidade, a influência não é tão grande", pondera.
Ele também observa que é importante identificar as causas principais de cada problema. "É preciso investigar se o desvio tem uma causa médica. A falta de selamento labial [boca aberta] pode ocorrer devido a uma obstrução, uma adenóide hipertrofiada, por exemplo. Os instrumentos musicais podem ajudar, mas são só coadjuvantes no tratamento", diz.
Para Cristina Camargo, é preciso analisar cada caso individualmente. "O ideal é que haja sintonia entre o professor de música e o dentista da criança, para que os dois possam adequar o instrumento às necessidades de cada pessoa.” •


Fonte: Folha de S. Paulo
Jornalista: Flávia Mantovani
Data: 15/06/2006

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