Gaitistas no SESC Pompéia

Prá quem ainda não sabe, o festival anual internacional de gaitistas acontece no início de Março no SESC Pompéia (SP/SP)

Local: CHOPERIA DO SESC POMPÉIA.
Rua Clélia, 93. Tel.: 3871-7700.
Dias 1, 2 e 3 de março às 21:00.

GRADE DE PROGRAMAÇÃO

DIA 1 / 3 – QUINTA FEIRA

21:00 – RODRIGO EISINGER TRIO
21:30 – DOCTOR FEELGOOD
22:00 – MARIANA BORSSATTO (são dois S e dois T, viu?)
22:30 - R. J. MISCHO

DIA 2 / 3 – SEXTA FEIRA

1:00 – GUAPPO
21:20 – GUTA MENEZES DUO
21:50 – ROBSON FERNANDES E BANDA
22:30 – R. J. MISCHO

DIA 3 / 3 – SÁBADO

21:00 – VÍTOR LOPES DUO
21:30 – MARCELO NAVES
21:50 – SÉRGIO DUARTE
22:30 - R. J. MISCHO

Bem, eu vou. Quero muito ver a onda que vai rolar na quinta-feira. Deixa eu aproveitar e tecer meus comentários, alguns bons e outros ruins sobre a programação deste ano.

A primeira coisa é pq eu quero ver o show de quinta. Começando pelo Eisinger, que é um dos gaitistas mais promissores, na minha opinião. O cara faz mestrado em música na UNICAMP, foi o primeiro gaitista a graduar em música popular na UNICAMP usando cromática, tem um sério interesse em cromatismo de diatônica, mas pode-se esperar um repertório de cromática usando e abusando temática de ritmos brasileiros. O Eisinger é um cara que eu conheci pela lista anos atrás e é muito legal a gente acompanhar o progresso do cara e compartilhar a visão dele do que é um caminho interessante para um gaitista.

Depois vem o Doctor Feelgood. Eu tenho impressões distoantes sobre ele. Um dos melhores solos de gaita de todos os tempos, na minha opinião, é o solo dele em "Who's Been Talking" com a Clara Ghimel. Ele gravou várias vezes com o André Christovam, que é uma figura no mínimo emblemática do blues paulista, mas nunca vi cd dele. Quando vi o show com ele em Campinas (tributo a 10 gaitistas de blues, cada gaitista brasileiro tocava 3 músicas de algum outro gaitista clássico - o melhor show de gaita que eu fui na vida - muito didático), eu achei ele um bom gaitista, porém regular. Não sei o que esperar do show dele. Gostaria que fosse um pontapé para um cd dele, que eu acho que ainda falta ter.

Mariana Borssatto (dois S, dois T) é uma grande amiga e uma exímia gaitista. Perfeccionista, é uma legítima gaita blues, aluna que é orgulho do Leandro Ferrari. Com forte influência de Milteau, pode-se esperar uma apresentação 100% blueseira. A Mari mora hoje em Buenos Aires e anda com a galera do cromatismo argentino, a mesma galera que trouxe o Carlos Del Junco à América Latina ano passado.

Eu vou só por causa da Mari e do Eisinger, diga-se.

Depois tem RJ Mischo, gaitista relativamente desconhecido, onda californiana. Dos vídeos que eu vi no youtube, eu não empolguei. Eu não costumo empolgar com a onda californiana, que acho brega. Acho cafona essa onda de tocar música que parece saída daquelas big bands dos primórdios do rock and roll, usando terno, sapatos lustrosos e gel no cabelo. É questão de gosto mesmo. Até fui no show do Rod Piazza, comprei o DVD (e dei logo em seguida) pq o santo não bateu mesmo. Pode até ser que eu tenha uma grata surpresa, igual tive com o Steve Guyger, que deu dois shows regulares e arrebentou no último dia do show (entrando no ritmo?), mas realmente não vou esperando nada.

No dia seguinte é o Guappo (nunca ouvi falar. Parece que foi aluno do Junior Wells. é tudo o que sei), Guta Menezes (trumpetista do Altas Horas, aquela banda de mulheres que toca no programa do Sërgio Groissman, dizem que toca bem), Róbson Fernandes (um clássico da gaita paulista, técnica soberba, ótima presença de palco, blues na veia e um cadinho de jazz tb), e outra dose de RJ Mischo.

No último dia, Vítor Lopes Duo (Vítor Kenji Lopes tocava chorinho na praça Benedito Calixto, pinheiros, faz parte do ótimo Trio Vira Lata e aguardo no show dele muito chorinho na cromática), Marcelo Naves (não conheço muito do trabalho dele, mas sei que ele está batalhando tem alguns anos no interior de SP), Sérgio Duarte (tradicionalíssimo gaitista de SP, muita técnica, pelo que eu ouvi do último cd dele, parece estar em boa fase e em ótima forma. Só não gosto das letras em português, sobretudo a tal do Homem do Progresso, com o qual sou traumatizado). E novamente RJ Mischo.

Deixa eu tecer alguns comentários.

Este ano, duas mulheres tocando. Muito legal isso. Em alguns instrumentos e em alguns cenários musicais, poucas mulheres se destacam, e o que se vê é que existe uma relação forte de identificação. Conte a quantidade de adolescentes que gostam de Pitty pq ela é mulher e faz letras do ponto de vista da uma mulher. Ou das mulheres que pegam aulas de gaita pq viram a Alanis tocando (soprando) gaita. E por aí vai. Eu sei que o Vasco Faé tentou bravamente organizar um encontro de gaitistas mulheres em SP (e depois chegou a me propor de eu organizar em BH, pq aqui em BH moravam a Mari e a Andréa. Obviamente não topei).

SP tem muita mulher gaitista tb. Eu mesmo conheço umas 3 ou 4. No país inteiro, devo conhecer menos de 10. Faço parte da lista desde 99, já viajei para pelo menos 4 ou 5 estados diferentes só para ver shows de gaita e acho que conheço até bastante gente tocando. Isso não é diferente dos cenários de outros países, na verdade, apesar de na Europa você conseguir fazer um Ladies' Night só com atrações femininas.

Será que um dia teremos uma noite tb dedicada ao Sugar Blue, Jason Ricci e Jerry Portnoy da vida? :-) espero que haja, até pq se tem um gaitista que eu queria ver tocando ao vivo é o Jason Ricci.

Não quero ser chato tb. Mas vou ser um pouquinho. Cuidado com as gaitas temáticas. "Gaitistas mulheres", "gaitistas gays", "gaitistas nordestinos". Até um ponto, ajuda a definir o que esperar dos shows e a mostrar vertentes, a partir de outro ponto, rotula. Muito cuidado.

Conversando com pessoas, ouvi falar que pensam em mudar o festival do SESC para outros lugares, talvez o Bourbon ou o Mr. Blues. Deixem anotado aqui meu pedido de NÃO. O SESC começa cedo e termina cedo, mas tem espaço e maravilhosamente é pontual. Se tem algo irritante no Brasil é a mania de que show só pode ser tarde e só pode começar 2h depois do horário marcado. Outra coisa: gaita não é sinônimo de blues e blues não é sinônimo de shows que começam 1 da manhã e terminam 5 da manhã. Eu gosto dos shows no SESC. Acho respeito com o público, acho o preço barato dada a qualidade do lugar. Se for financeiramente viável, leiam meu voto de NÃO SAIAM DO SESC.

Mas fundamentalmente falando, pode ser pq eu já vi gaitistas de blues demais e eu hoje em dia seja mais exigente e esteja buscando outros sons tb. Mas o fato é que eu devo ir em todos os dias, mas a 5a pode ser meu dia favorito. É muito legal quando vc vê seus amigos de lista (gaita-list, gaita-bh) passando de platéia para atração, e o festival do SESC tem um grande mérito de sempre se preocupar em mostrar novidades e manter uma certa diversificação de estilos. Acho que cumpre muito bem seu papel de festival mais importante de gaita do Brasil. Se bem que o Fórum Harmônicas Brasil do Ceará, em termos de atrações, foi superior, na minha opinião. SP só ganha pq está mais perto prá maioria.

Mas toda iniciativa é válida e não cabe a mim ficar criticando tb. Mas tb não esperem de mim uma atitude poliana onde tudo está bom como está. Festivais anteriores no SESC já tiveram uma programação melhor, talvez seja possível melhorar os próximos. Tragam o Del Junco, o Milteau, o Jason Ricci, o Allen Holmes, o Michalek, o Steve Baker, o Brendan... sonhar não custa ;-)