Hering, 4 anos depois do meu post de 2005

Estou publicando aqui um email da Hering, comentando sobre um post deste blog que eu postei em 2005.

O blog agradece ao Sr. Bertolazzi e lembra que nosso canal está sempre aberto a todos

Prezado Kenji,

Revendo os meus arquivos encontrei uma matéria que você fez aproveitando um almoço com o Benevides em 26 de junho de 2005. Quatro anos depois acho oportuno fazer alguns comentários sobre os principais pontos abordados na ocasião.

1) Maquinário – em 2007, aceitando um convite da sua presidência, visitei a fábrica da Hohner em Trosingen, em plena floresta negra. Tive oportunidade de visitar a fábrica em todos os setores e fiquei muito impressionado por uma coisa, a não ser pelo tamanho, parecia que estava andando dentro da Hering, ou seja, os maquinários, moldes de palhetas, máquinas e processos de afinação, enfim, tudo nos mesmos padrões da Hering. A mudança, claro, em função do maior numero de harmônicas produzidas, ficou na parte da montagem onde existe uma certa automação. Claro que existem alguns moldes para estamparia novos, ou com uma manutenção constante (como na Hering), mas o que ficou patente é que a harmônica é um instrumento musical onde a mão de obra agregada é muito importante, na realidade é o que determina a qualidade do instrumento. Talvez por isso as harmônicas Hering, principalmente as Cromáticas, estão entre as melhores do mundo.

2) Afinação: como já disse os dispositivos e os métodos de afinação são absolutamente iguais aos vistos em Trosingen e, tanto lá como em Blumenau, funcionam muito bem. Quanto à meia dúzia de velhinhos não é bem assim. Temos hoje mais de 22 pessoas, entre os quais algumas mais experientes, como o Manke e o Setter que estão envolvidos na afinação de cromáticas e diatônicas. Claro a experiência dos mais antigos é fundamental, são eles que inclusive supervisionam os mais novos, mas a maior parte são afinadores ou preparadores com uma faixa etária entre 20 e 30 anos que seguem os mesmos padrões tradicionais. Quanto à afinação eletrônica estamos investindo nisto, mas segundo o Fabrício Casarejos, nada pode substituir o ouvido humano nestas questões. Talvez a utilizemos para gaitas mais simples.

Decadência: não sei qual a tua idéia de decadência, mas olhando para o mercado tanto no Brasil, como no exterior, a gaita está ganhando espaço e aumentando o numero de apreciadores. Nos últimos 4 anos por exemplo, o mercado nos USA praticamente dobrou o que ocasionou o aparecimento inclusive de novos fabricantes.

Situação da Hering no mercado: Você dizia que “a sorte da Hering está lançada”, não contrataria novos endorsee, não faria investimentos em pesquisas e a tua aposta era que as cromáticas ficariam e as diatônicas sumiriam.

Vamos ver a questão dos endorsees primeiro. No cenário nacional aos Jefferson Gonçalves, Big Chico, José Stanek, Clayber de Souza, Alexandre Rossi, Benevides, Rildo Hora, Luciano “Boca”, Carlos May e Ronald (que infelizmente não está mais entre nós), juntaram-se o Ale Ravanello, Guto Grandi, Andy Boy, Marcio Scialis, Fabrício Casarejos, Pablo Fagundes, Robson Fernandes, Paulo Prot, a maestra regente Áurea Regina, Guta Menezes, Julio Rego, Milton Guedes e o Otávio Castro. O último citado, o Otávio Castro foi patrocinado pela Hering, juntamente com o guitarrista blumenauense Mazinho, a participar do SPAH em Sacramento, Califórnia. Que sucesso!!! Deixou a todos impressionados com a sua técnica única. Brevemente vou mandar para você um DVD que produzimos onde, além de diversas cenas do SPAH, você poderá ver o show inteiro do Otávio.

Na área internacional além do Mad Cat e Stan Harper, depois de 2005 passaram a integrar o nosso time o Mariano Massolo, Nicolas Soljan e Franco Luciani da Argentina, Gonzalo Araya do Chile, Mátyàs Pribojszki da Hungria, Alberto Varaldo da Itália, Filip Jers da Suécia (estes últimos dois ganharam o ultimo concurso da Hohner, em blues e jazz respectivamente utilizando cromáticas Hering), John Hammond, Rod Piazza e Keb Mo’dos USA.

Que time de fazer inveja a qualquer fabricante!!!

Investimentos em pesquisa: desde 2006, o gaitista e físico Fabrício Casarejos, faz parte do time da Hering aplicando os seus conhecimentos, tanto na música, como na física, para desenvolver novos materiais, novos modelos e customizando harmônicas. Com ele juntamos a tradição, anos de trabalho desenvolvidos pelos colaboradores da Hering (quantos materiais e processos testados nestes 86 anos!) com modernas técnicas de produção, de afinação e novos materiais testados em laboratório.

O objetivo é tornar a harmônica em um instrumento cada vez mais precioso, e a participação do Fabrício tem sido de grande importância.

Além do aprimoramento dos modelos existentes lançamos nestes últimos 4 anos, diversos novas harmônicas: a Handy Harp e a Super Gig para estudantes, a Delta Blues e a Máster Blues com corpo de madeira para os apreciadores de um som mais aveludado. A Hering Blues Custom FC, a Golden Blow e a Silver Blow para os seguidores do cromatismo. Foi utilizando-se de uma Golden Blow em C que o Otávio Castro deixou a platéia do último SPAH estarrecida.

Temos ainda as novas diatônicas MadCat e Rod Piazza signature, ambas com materiais desenvolvidos pelo Fabrício, esta última (Rod Piazza) produzida exclusivamente com apenas um material, o bronze. As duas já se tornaram sucesso de vendas.

Nas cromáticas temos a nova Opus Custom F.C., as duas 56 vozes Stan Harper e Ronald da Gaita (eles que nos incentivaram a lançar este modelo), a nova De Luxe 48 e a recém lançada Free Note. Esta última, projeto 100% do Fabrício Casarejos, com o seu novo design e materiais utilizados na confecção do corpo, tampa e palhetas. Já é objeto de desejo de muitos harmonicistas, principalmente profissionais.

E ainda desenvolvemos uma nova linha de embalagens mais práticas e que tornaram as gaitas mais bem protegidas.

Nada mau, principalmente se consideramos o pouco espaço de tempo, 4 anos.

Você estava certo quando comentou que o relacionamento da Hering com a comunidade gaitista era muito fraca.

Realmente nestes últimos anos com tantos projetos, nos voltamos muito para dentro da fábrica. Recentemente para sanar esta situação, contratamos o Márcio Scialis como gerente de marketing. Tenho certeza que as coisas vão melhorar na área de comunicação e desde já ele está à disposição da comunidade.

Caro Kenji, o objetivo destes meus comentário visam apenas informar e esclarecer a comunidade gaitista, como você chama, sobre as últimas atividades da Hering e deixar a todos tranqüilos, as gaitas Hering, que já existem a 86 anos, continuarão produzindo harmônicas e investindo cada vez mais para atender as exigências do mercado.

Para mim, particularmente, hoje produzir harmônicas sempre melhores e engrandecer a Hering não é apenas um trabalho, é um objeto e uma paixão.

Atenciosamente,

Alberto Bertolazzi

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