nos áureos tempos do dólar 1:1, no início do plano real, eu comprei meus dois brinquedos gaitísticos mais bacanas: o microfone astatic jt30vc e o amp "legendary" pignose, que na verdade é um amp de guitarra para estudo, porém útil e bonitinho o suficiente para impressionar as garotas.
na época, eu devo ter pago pelo dois, novos, mandando importar dos states e pagando os 60% de imposto, uns 250 reais. Uma baba.
de lá prá cá, o pignose tem ficado parado e o jt30vc me prestou bons serviços (agora ele precisa de nova manutenção. anos atrás ele teve a primeira manutenção dele com o luis fernando lisboa, quando precisei trocar a cápsula. dica: não leve seu bullet para churrasco, pq vc, tonto, vai deixar ele cair no chão e o conserto não sai barato)
a escolha do jt30vc foi simples. qual o bullet mais barato com controle de volume que tinha na época. confesso que fiquei meio decepcionado quando descobri que o som dele era limpo e que não parecia muito diferente de um microfone de voz normal (na verdade eu descobri anos depois a leve distorção dele quando estava tentando gravar voz com ele: não serve). Na verdade, todo gaitista que vai comprar um bullet, ou a maioria deles, quer aquele som típico do green bullet do flávio guimarães, então compre um green bullet, que como diz sabiamente o ferrari, tem som de green bullet e tudo o que vc tocar nele vai ficar com som de green bullet.
mas pelo menos o jt30vc é ergonômico e lindo de morrer. Curiosamente, um dos meus sites favoritos de gaitista é o www.jt30.com, que tem um conteúdo interessante e original (inclusive vou copiar descaradamente algumas idéias deles publicando aqui, mais tarde, uma lista de trapaças gaitísticas, ou o que eles chamam de street harp). Hoje ele anda meio aposentado, depois que eu comprei um bullet com cápsula de telefone do Diogo Farias (mais tarde, neste mesmo blog, eu vou explicar quem é o Diogo Farias e a Michele e porque os dois são indispensáveis), que eu uso regularmente no café, depois que eu aprendi a usar a tal pedaleira-de-pobre, o zoom 505 II (era mais barato que comprar dois pedais separados quaisquer)
já o pignose, eu juro que tentei usar, ele até funciona bem em estúdio (eu levava ele pro estúdio prá ensaiar com o deja blue e microfonava ele) pq ele é pequeno e leve, mas vou te falar que prá tocar onde quer que seja, ele é baixo e a panela pequena não ajuda nos graves, apesar dele ter uma distorção natural legal. E sinceramente, para estudar em casa, nem vc nem seus vizinhos precisam de um amplificador (embora meu vizinho merecesse). Como ampli, eu uso um fender transistorizado de 15 que funciona muito bem, tem drive e reverb, tudo o que realmente é preciso para um gaitista crescer forte e saudável, ao mesmo tempo em que ele guenta o tranco dos guitarristas egocêntricos que jogam o volume deles no talo (conheço um monte deles)
qual a lição disso tudo? bem...
primeiro eu tenho a minha teoria de que gaitista gosta de brega, e quando eu falo brega, eu falo do pós-guerra. Aliás, até seria uma boa tentar criar a "galeria dos tipinhos típicos" da gaita, classificando gaitistas por semelhança e influências, mas todo rótulo é ruim, e rotular gaitistas ainda parece ser uma má idéia. Mas voltando ao brega, gaitistas usam terno, sapatos engraçados (leia-se Johhny Rover), gostam de equipamento vintage (amps valvulados, mics bullet), chapéu dos irmãos-cara-de-pau, óculos escuros e whisky. Tirando os gaitistas malucos, a maioria parece estar atrás do Sonny Boy Williamson e dos Little Walter. Bem, não há nada de errado nisso. Fãs de mangá se vestem de sailor moon nas convenções, é só mais uma forma de paixão e diversão.
segundo, equipamento nunca fez gaitista nenhum, mas todo gaitista quer ter um equipamento bacana e conferir por sí próprio se existe um atalho pro "timbrão". É, não tem. Tem as trapaças, mas a busca pelo timbrão segue a vida inteira. E cá prá nós, o equipamento nem faz tanta diferença assim, tirando aqueles pedais malucos. Green bullet faz diferença, isso é verdade, mas o resto? Amp valvulado, outros bullets... do que eu vejo por aí, sinceramente, o que faz diferença mesmo é, pasmem, a mesa ;-) sim, a mesa onde se mixa e equaliza tudo. Tem mesas e mesas. O som do lugar, o que o Jimmy chama de "ambience", isso faz mais diferença. Agora, independente disso tudo, todo gaitista sabe disso mas não se importa. O mic bullet e o amp valvulado (ou o v-amp) são como belos sapatos nos pés de mulheres inseguras. Equipamento em geral é muleta, serve prá dar confiança, ou mesmo para chamar um pouco de atenção ao gaitista mostrando como ele é "especial" que até precisa de um microfone e um amplificador diferente de todos os outros da banda. E tb não tem nada demais nisso, se o processo de auto-afirmação não persistir o resto da vida. Todo gaitista começa inseguro e gastar no equipamento que no final não faz tanta diferença assim (ou pelo menos tanto quanto o gaitista queria) faz parte do processo de amadurecimento. O que não pode acontecer é o cara ficar travado o resto da vida quando alguém chamar o sujeito prá canja e ele recusar pq foi pego de surpresa sem sua parafernália.
Músico nenhum devia depender de equipamento. Eu me lembro de um email do benê no gaita-l em que ele falava algo do tipo "cara, o sonny boy williamsom tocava na marine band mais barata e fudida e desafinada da época dele, e vcs estão choramingando por uma gaita que precisa de ajuste". O cara está totalmente certo. Purismo demais é perda de tempo.
Vc não esta afim de vender seu pignose não ?
ResponderExcluirQualquer coisa estamos ai ...
potcholoco@gmail.com
Abraços.