terça-feira, 10 de maio de 2005

quem é o Kenji, gaitisticamente falando

eu já gostava de blues antes de tocar gaita. meu irmão trabalhava na biblioteca do instituto goethe para pagar o curso de alemão e a biblioteca emprestava vinis e fitas k7. Peguei uma fita que tinha gravações de um festival de guitarras em Berlin com Baden Powell e Buddy Guy em início de carreira. Peguei por causa do Baden Powell, mas foi quando eu conheci Buddy Guy em sua melhor forma, e curiosamente, meu primeiro blues se chama "First Time I Had The Blues". Daí a coisa foi só piorando pro meu lado. Consegui comprar esse CD de uma loja no japão, quase 10 anos depois. Custou uma fortuna e levou meses para chegar, mas para mim é um cd que significa muito e fico feliz de ter podido comprá-lo.

comecei a tocar gaita aos 14 quando peguei catapora e fiquei de cama por um bom tempo. Meu pai tinha me dado uma velha yamaha tremolo e meus amigos na época tocavam violão. Querendo entrar na jogada, peguei o primeiro instrumento musical que tinha me aparecido na frente. Antes disso, eu já tinha brincado um pouco com um piano da casa de um tio meu, então já tinha uma noção mínimas de onde estavam as notas musicais. Eu me lembro até hoje que eu pensava "se eu tocar isso aleatoriamente por tempo suficiente, eu vou acabar gravando na cabeça onde está cada som". Seja por isso ou não, acho que tenho um ouvido até bom e tenho facilidade para tirar melodias fáceis de ouvido.

então veio a fase típica do gaitista que não tem banda: querer tocar e aparecer de qualquer jeito, caçando todas as rodas de violão possíveis. Tentava tirar os blues do Sonny Terry, que tem os riffs mais rurais e mais simples e tentava tocar em toda roda de violão que aparecesse. Sem uma educação musical formal, comecei a prestar atenção nas posições do violão e a criar uma "lógica" sobre como acompanhar músicas no violão, ou seja, ao contrário do que seria normal num instrumento de solo como a gaita, eu comecei a tocar gaita para acompanhar o violão e eventualmente fazer um solo ou outro entre as partes da música. Essa fase me foi especialmente útil para aprender a tocar mpb e rock nacional e ter algumas "jogadas ensaiadas" na manga nos churrascos.

nessa época, tb tinha uma locadora de CDs na Som Alternativo do gaitista do It´s Only Rolling Stones. Quem ficava na locadora era a namorada dele e eu aluguei quase tudo de blues e gaita que tinha lá. Estava saindo da minha fase de ouvir rock progressivo para começar a ouvir blues. Muitos daqueles CDs eram emprestados para a Gerais FM para compor o repertório do programa de blues deles, às quartas à noite, acho, que eu ouvia e gravava religiosamente. No entanto, os melhores CDs nunca estava alugáveis, até que um dia o dono da locadora apareceu por lá, sabendo que eu era "o menino que alugava os cds de gaita". Foi quando o sujeito me chamou prá ir no escritório e me passar "o que não era alugável".

Na sala do que "não era alugável" estava um mic bullet e um pignose (eu comprei um de cada igualzinho) e cds como o "get harp if you want it" e o "here we go" do Ford Blues Band. Anos depois eu comprei os dois. O "Here we go" me custou algo que hoje seria uns 60 reais e levou 3 meses para chegar da alemanha, pois não era vendido nos EUA naquela época. Esse cara, cujo nome não me lembro, provavelmente foi um dos caras mais importantes para mim em termo de abrir as portas do que havia de gaita.

aos 18, conheci o Márcio, que era um dos maiores fãs de blues que eu já conheci. Completamente autodidata, o cara tocava guitarra de blues com paixão, e era excepcionalmente bom com slide. Gostava muito de Celso Blues Boy (tinha todos os vinis) e todo fim-de-semana eu pegava o metrô até o Eldorado e ia tocar na casa dele. Acho que nunca conheci alguém que gostasse mais de blues que ele, e olha que eu conheci MUITA gente que gosta de blues. Fui no casamento do Márcio e depois ele se mudou para Venda Nova, quando perdi o contato com ele.

na época de faculdade, conheci o Hugo, que foi clarinetista solo da filarmônica da Clóvis Salgado e o Léo Knegt, que tocava guitarra e banjo. Chegamos a tocar alguma coisa de bluegrass e alguma coisa mais jazzy. Foi quando eu corri um pouco atrás de bossa nova e standards do jazz. Também foi quando eu conheci o Sandro, que era vocalista de uma banda chamada Bândida e que tb era cabelereiro no salão pedrinho perto da minha casa na Cidade Nova. O cara cantava um bocado e chegamos a tocar alguma coisa juntos, mas nunca a coisa engrenou além disso. Foi a mesma época em que cheguei a aprender rudimentos de partitura e a fazer um pouco de coral.

no fim da faculdade, fui convidado para tocar com uma banda de rock que nunca teve nome e vocalista fixo, pelo baixista Lucas Zallio. Apesar da banda ser de ótima qualidade, infelizmente não durou mais que um ano de ensaios regulares no Telles. O repertório era hard rock (creedence, steppenwolf, led e deep purple) e foi uma ótima experiência para aprender a tocar em banda e principalmente a tocar em estúdio com distorção de ganho e drive. Nessa época comprei um amplificador transistorizado de boa qualidade de um gaitista de Campinas, com reverb e distorção leve de ganho.

mais ou menos nessa época, o gaita-l fervilhava e o Gaspar Vianna disponibilizava mp3 da coleção pessoal dele num servidor de ftp e eu ia pegando tudo de madrugada no serviço. O gaita-bh engrenou no ano em que eu editei o primeiro CD do gaita-l, que teve uma ótima repercussão e foi quando eu comecei a formar um círculo de amizades de gaitistas do país inteiro, e principalmente de BH. Gaspar e Clara vieram a BH e trouxeram toneladas de informação, músicas, vídeos e histórias, que me fizeram perceber mais uma vez que havia um mundo de informação de gaita que eu não conhecia (e a cada dia que passa, sinto que conheço cada vez menos)

junto com o fim da banda de rock, montei o Deja Blue, que anda meio parada, mas que rendeu bons frutos. No início foi uma novela para arrumar baixista, mas o resto da banda toda era boa e se entendia bem, num repertório mais soul, muito parecido com o repertório do Loretha Funkenstein, mas com menos virtuose que essa última.

finalmente, quando o Deja Blue deu uma esfriada com a saída do cavanha, que era o guitarrista, e com o emprego novo do juliano (baterista) que exigia dele constantes viagens, o Max me chamou para tocar regularmente no café do Letras e Expressões, onde todo toda semana (ano passado cheguei a tocar duas vezes por semana sempre, mas é bem exaustivo. Uma vez por semana é o suficiente), para tocar o repertório de british pop e indie rock. Recentemente, resolvi experimentar alguns efeitos simples de distorção como flangers e harmonizers para mudar um pouco a identidade da gaita nesse repertório, seguindo uma tendência que vêm acompanhando gaitistas como Rodrigo Eberienos e Leandro Ferrari, que por sua vez seguem uma tendência estabelecida pelo Madcat e pelo Paul De Lay

continuo participando das listas de discussão, seja o gaita-l, o gaita-bh ou o orkut e editando anualmente os cds do gaita-l, que agora se concentram mais no fim do ano. O primeiro CD não teve festa de lançamento, o segundo teve aqui em BH (a primeira vez que eu tentei organizar alguma coisa nesse sentido, e foi uma loucura extenuante e incrível), o terceiro no RJ organizado pelo Gaspar Vianna, o quarto não teve lançamento e o quinto foi em Santos, organizado pelo pessoal do gaita-bs, coordenados pelo excepcional Morenno e com a ajuda inestimável da Lu Vaz, e teve direito à homenagem ao Ulysses Cazallas. O sexto, se depender de mim, vai ser em BH ou em Macacos, show acústico em lugar menor. Vamos ver como fazer.

2 comentários:

  1. Caramba!
    Vc escreve, hein? Li o texto da Nadine, agora estou saindo da Hohner, amanhã (ou hoje à noite) leio o resto.

    Continue!
    Abraço forte,
    Bresslau

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