sexta-feira, 17 de junho de 2005

3 períodos da gaita

acho que existem três períodos distintos na vida dos gaitistas. eu chamo de "zanzando", "querendo tocar" e "hierarquia de timbres"

zanzando é quando o sujeito quer tocar gaita e fica zanzando com a gaita de um lado pro outro, dentro do bolso. às vezes entra um fiapo que prende a palheta, mas nada muito sério. O cara toca de vez em quando, meio que escondido. Ele quer tocar mas ainda não sabe o que fazer direito.

querendo tocar é quando o sujeito já faz uns improvisos e fica rodeando as rodinhas de violão, esperando a deixa prá tocar sua gaita. Nesse período, ainda sai muita coisa lastimável pela falta de ensaio, mas já chama a atenção. Algumas vezes o gaitista até recebe uns elogios ou desperta a curiosidade de alguns ouvintes mais simpáticos.

essa fase é a fase que eu costumo brincar e dizer que música é igual sexo. Se vc não pratica regularmente, vc fica meio ridículo tentando arrumar um jeito de tocar na primeira oportunidade que aparecer com alguém que vc nunca viu na vida. Muitas bandas e muitos relacionamentos nascem dessa estratégia, mas quebra-se muito a cara até acertar a mão. Por isso que eu sempre digo para meus amigos gaitistas que eles devem sempre ter uma banda (por pior que seja, uma banda bem ensaiada ainda pode tocar bem), e sempre fazer sexo tb... ;-)

sexo e música são prática, em 90% dos casos

finalmente, depois que o sujeito arruma banda e desencana, ele entra na hierarquia do timbre. o gaitista, ao contrário de muitos músicos de outros instrumentos, se sentem muito mais intimidados em tocar ao lado de outros gaitistas melhores. Eu acredito que isso se deva ao fato da gaita hoje em dia ser um instrumento de solo, portanto bastante susceptível ao ego. Por exemplo, eu duvido que qualquer sujeito que toque violão fique intimidado de tocar ao lado do paulinho da viola, embora o respeite profundamente (ou meu exemplo não é bom? eu já vi a Cássia Eller numa entrevista dizer que não ia subir no mesmo palco que o Paulinho da Viola de pura vergonha)

a questão é que todo gaitista que conhece bem outros gaitistas busca o timbre mínimo para subir no palco e tocar com outros gaitistas melhores. Ao mesmo tempo que isso é bom pq leva o gaitista a melhorar, é ruim pq não estimula a diversão, a descontração e o clima bacana de troca de idéias que muitas vezes o palco aberto oferece.

nisso, os encontros do gaita-l e os lançamentos de cd da lista foram bem bacanas. Eu acredito que para a comunidade do gaita-l, é importante haver um palco livre para a galera aparecer e que a diversão é o mais importante nessas ocasiões.

eu acho que as melhores coisas para qualquer gaitista são tão óbvias que até fica meio estúpido enunciar aqui, mas vou fazê-lo assim mesmo

1) estudar música e estudar timbre, prá ganhar desenvoltura e confiança
2) arrumar uma banda para aprender a lidar com o ego alheio, com o próprio ego, com estúdio e com o público
3) ouvir muita música, sempre sem preconceito, mas criticamente
4) tentar se divertir no fim das contas

tem um exemplo muito triste sobre música que não é diversão. Eu tenho um amigo, o Ivan, que tocava violão com a gente e gosta muito de música. Gosta tanto que estudou prá virar engenheiro de som e tem seu próprio estúdio de gravação, hoje. E parou de tocar, pq tocar prá ele agora é trampo e na folga ele não quer nem chegar perto de um palco.

se a música nào é ganha-pão para vc, tente não esquecer a diversão. E se é, tente não esquecer disso tb.

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