quinta-feira, 30 de junho de 2005

BH/MG - minas harp 3 - harp day - intensivão

o leandro pediu prá avisar que a partir da próxima 5a (e daí em diante, toda 5a) vai ser o intensivão de gaita na pro-music

dura 4 quintas consecutivas, 20:00, na pro-music. custa R$ 80,00 e deve ser mais em cima de teoria. cada aula de 1:30h de duração. mais informações no site da promusic

a outra notícia (que agora é oficial) é que 6/8 tem minas harp no conservatório (são paulo com timbiras) com flávio guimarães. boa oportunidade para ver o flávio tocando num espaço pequeno (o conservatório tem capacidade para 200 pessoas, apertadas, se contar o espaço externo da sinuca). Deve ser algo em torno de 10 reais.

deve ter um workshop dele tb, mas ainda não se sabe ao certo que dia vai ser pq está dependendo da confirmação de um show do flávio em Ipatinga (quem mora em Ipatinga tb vai ter o que ver)

curiosamente, dia 8/8 é meu aniversário, de forma que vcs já sabem

1) onde eu vou comemorar
2) que o conservatório vai encher

recados dados. agora vcs sabem pq o primeiro harp day precisa ser antes de 10 de julho. de que adianta ir no workshop do flávio sem ter perguntas inteligentes prá fazer? ;-)

informações sobre o grupo de estudos de gaita e o harp day

[]

Kenji

domingo, 26 de junho de 2005

hering, benê e o futuro da gaita (pedante. não?)

para ler sobre a visita à fábrica da hering, leia este artigo que foi publicado originalmente em janeiro de 2004 no portal gaitabh:

Depois de anos ouvindo o pessoal reclamar sempre da fábrica da hering e da qualidade das diatônicas, almoçando com o benê no meio da estrada, eu tive a oportunidade de conversar francamente, cara-a-cara com um dos responsáveis pela renovação dos modelos de gaitas diatônicas da hering 10 anos atrás, com o lançamento das hering blues e similares, até a mais recente vintage e a 40 vozes. Eis o argumento dele

"quando a gente planejou a hering blues, nós pegamos a gaita mais legal que havia (lee oskar) e olhamos tudo o que havia de legal nela que a gente poderia implementar"

de fato, olhando para uma hering blues, a semelhança é cabal. eles mudaram os parafusos externos, aumentaram os internos para melhorar a vedação, melhoraram o bucal e usaram palhetas maiores que levam mais tempo para desafinar. O resultado é que a hering naquela época investiu em endorsers, publicidade e vendas no exterior e conseguiu uma fatia do mercado. Em contrapartida, uma diatônica que custava R$ 11 quando foi lançada hoje custa quase R$ 80 no mercado nacional. E se isso parece caro, procurem por gaitas importadas nas lojas nacionais de instrumentos e confiram que mesmo as hohners já não sáo frequentes de se achar por aqui. Não só o dólar subiu daquela época para cá como o próprio mercado acabou favorecendo a hering.

o processo da hering é praticamente o mesmo processo de fazer gaitas que se fazia 40 anos atrás. o maquinário ainda é o mesmo que era da hohner (a hering era uma fábrica da hohner), o que não significa que a qualidade seja ruim, uma vez que as cromáticas estão entre as melhores do mundo. A questão que se coloca aqui é como será o futuro da hering, e consequentemente, dos gaitistas brasileiros.

"quando eu resolvi ajudar a hering a fazer gaitas melhores, o que eu sempre quis foi ter gaitas boas prá tocar. eu sou gaitista, eu preciso de gaitas boas", me disse o benê

não há motivo mais justo mesmo. as gaitas são afinadas de ouvido por uma meia-dúzia de pessoas, alguns já bem velhinhos. Muitos afinadores afinam as gaitas em casa mesmo e nem ficam na fábrica. É um trabalho maçante e nem tão bem remunerado assim. Um dos pontos do Benê era "quem serão os próximos afinadores da hering, nos próximos 20 anos?". Se afinar eletronicamente fosse fácil, nem a própria hohner teria gaitas handmade, supondo que as MS sejam afinadas eletronicamente...

olhando para o resto do mercado, as gaitas estão em decadência desde o pós-guerra, quando Borrah Minevitch dizia que "metade do mundo toca gaita e a outra metade gostaria de tocar". A Hohner já teve quase uma dezena de fábricas de gaitas na alemanha, onde a gaita não é só um instrumento, mas parte da cultura do país. O movimento hoje é de investimento onde a mão-de-obra é mais barata. Tirando a Seidel, da alemanha oriental, que deve ter um maquinário comparável à da hering, mas que fabrica gaitas bem piores, todos os grandes investimentos das indústrias de gaitas acabam indo para a China e adjacências. Eu não sou profundo conhecedor do mercado, mas reunindo os boatos que eu tenho ouvido nos últimos 10 anos, eis o que está acontecendo

Hohner: investindo pesado na melhoria da qualidade das gaitas chinesas (as bluesband da vida) e investindo em soluções inovadoras como a XB-40, que permite bends em todas as casas

Huang: teoricamente estava recebendo investimentos para abrir uma fábrica nos estados unidos e melhorias de qualidade. A Huang é uma gaita barata e macia como uma lee oskar, porém desafinava rápido. Seria uma forte concorrente no mercado, caso resolvesse esse problema

Seidel: continua com gaitas ruins, mas investiu num sistema revolucionário de corte de palhetas, mais preciso. é duvidoso se os investimentos vão continuar

Hering: deve parar de lançar gaitas novas no mercado, após a vintage e a 40 vozes e se concentrar no mercado externo. Parou de contratar endorsers e está diversificando a produção para fazer outros instrumentos musicais, aproveitando a boa logística que eles já têm no brasil

Naturalmente que cada fábrica tem seu poder de fogo e sua estratégia, mas olhando do nosso ponto de vista tupiniquim e excluindo os argumentos ufanistas, que normalmente não me agradam, me parece que a sorte da hering está lançada. Duvido que a empresa tenha condições de fazer investimento em pesquisa de materiais para desenvolver palhetas mais macias e que durem mais, ou em automação de afinação. Palhetas mais macias para competir e automação de afinação para garantir o futuro da empresa. Ou talvez, pela estratégia atual, a garantia de sobrevivência venha da diversificação do negócio da empresa.

Vem a questão óbvia, o gaitista brasileiro deve apoiar a hering? A hering é estratégica pq apesar de caro, a gaita nacional ainda é a mais barata e os gaitistas iniciantes precisam de uma gaita barata para aprender. Ao contrário do que muitos gaitistas acham, o grosso da produção da hering que é absorvida é de rolinhas e yaras. Eles não estão brincado quando chamam a free blues de "gaita profissional". Mas ao mesmo tempo, eu acho o relacionamento da hering com a comunidade gaitística (existe isso?) fraco. Certamente não por má vontade, mas pq a empresa fica longe dos grandes centros mesmo e falta organização da própria comunidade de gaitistas. Na minha opinião, o gaitista não deve apoiar fábrica nenhuma, mas deve ficar de olho vivo na hering, pq se ela fechar amanhã, a vida vai ficar mais difícil pros gaitistas, e aula ainda é o ganha-pão da maioria deles.

Eu imagino que o investimento nas fábricas chinesas da Huang e da Hohner deve refletir em breve com o surgimento de gaitas baratas competindo com a Hering. E acho que a Hering deve aproveitar este momento para ganhar mercado internacional pq as fábricas chinesas têm o custo muito menor que qualquer outro lugar do mundo, ainda mais nosso Brasil dos juros altos e dos muitos impostos. Minha aposta é que as cromática hering fiquem e as diatônicas sumam, com o tempo. Seria uma pena, mas eu realmente considero esse cenário.

Que alternativa têm os gaitistas para renovar o mercado da gaita? Para colocar a gaita na moda? Hoje em dia a gaita é quase sempre blues e folk, mas ela já foi bossa nova, já foi jazz. No Brasil, o que prevalece é o pop. O Pop alimenta os instrumentos musicais. Hoje em dia, o mercado pertence aos DJs e aos emuladores de amplificadores. O Blues, que viveu um boom no Brasil nas décadas de 80 e 90 hoje vive em crise, quando os grandes festivais não são mais de jazz e blues, mas de música eletrônica. Há quem ache que o blues precisa ser renovado, há quem ache que a gaita deva ir para outros estilos. Acho que ambos os argumentos são tendências naturais e não são novidade, mas não vão alterar o cenário. O cenário só vai mudar quando os gaitistas pararem de pensar no instrumento em si e começarem a fazer música onde o timbre da gaita seja necessário. No estilo que for, ou melhor ainda, num estilo novo.

Uma tendência que tem ganhado força é usar a gaita com pedaleiras, criando um efeito de teclado, mas também tem seu ponto fraco: pq não usar um teclado? Outra coisa é reforçar no blues puro, mas isso já se faz e o espaço do blues e do jazz só tem diminuído.

O caminho mais provável, seguindo a estratégia do selo Blue Note (que por sinal tb está em crise, em busca da nova onda salvadora de um estilo que não é o mesmo faz 40 anos) é conversar com o mercado. As duas últimas ondas que salvaram a pele da Blue Note foram o US3, Saint German e Norah Jones. US3 foi o auge do acid jazz, quando o jazz resolveu conversar com o rap. Norah Jones conseguiu ganhar espaço no pop graças a um rostinho bonito, um bocado de talento e um repertório digestível pelo grande público. Saint German foi o diálogo do Jazz com a música eletrônica lounge.

A melhor coisa que poderia acontecer com a gaita no mundo, hoje, seria aparecer uma banda como Dave Matthews Band mas com um gaitista à frente dos vocais. E a melhor coisa que poderia acontecer com a gaita no brasil seria aparecer uma banda como Los Hermanos com um gaitista à frente dos vocais. Ou uma Britney Spears tocando gaita, mas a probabilidade de uma gostosona saber tocar gaita bem é de 1 em 1 milhão.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

3 períodos da gaita

acho que existem três períodos distintos na vida dos gaitistas. eu chamo de "zanzando", "querendo tocar" e "hierarquia de timbres"

zanzando é quando o sujeito quer tocar gaita e fica zanzando com a gaita de um lado pro outro, dentro do bolso. às vezes entra um fiapo que prende a palheta, mas nada muito sério. O cara toca de vez em quando, meio que escondido. Ele quer tocar mas ainda não sabe o que fazer direito.

querendo tocar é quando o sujeito já faz uns improvisos e fica rodeando as rodinhas de violão, esperando a deixa prá tocar sua gaita. Nesse período, ainda sai muita coisa lastimável pela falta de ensaio, mas já chama a atenção. Algumas vezes o gaitista até recebe uns elogios ou desperta a curiosidade de alguns ouvintes mais simpáticos.

essa fase é a fase que eu costumo brincar e dizer que música é igual sexo. Se vc não pratica regularmente, vc fica meio ridículo tentando arrumar um jeito de tocar na primeira oportunidade que aparecer com alguém que vc nunca viu na vida. Muitas bandas e muitos relacionamentos nascem dessa estratégia, mas quebra-se muito a cara até acertar a mão. Por isso que eu sempre digo para meus amigos gaitistas que eles devem sempre ter uma banda (por pior que seja, uma banda bem ensaiada ainda pode tocar bem), e sempre fazer sexo tb... ;-)

sexo e música são prática, em 90% dos casos

finalmente, depois que o sujeito arruma banda e desencana, ele entra na hierarquia do timbre. o gaitista, ao contrário de muitos músicos de outros instrumentos, se sentem muito mais intimidados em tocar ao lado de outros gaitistas melhores. Eu acredito que isso se deva ao fato da gaita hoje em dia ser um instrumento de solo, portanto bastante susceptível ao ego. Por exemplo, eu duvido que qualquer sujeito que toque violão fique intimidado de tocar ao lado do paulinho da viola, embora o respeite profundamente (ou meu exemplo não é bom? eu já vi a Cássia Eller numa entrevista dizer que não ia subir no mesmo palco que o Paulinho da Viola de pura vergonha)

a questão é que todo gaitista que conhece bem outros gaitistas busca o timbre mínimo para subir no palco e tocar com outros gaitistas melhores. Ao mesmo tempo que isso é bom pq leva o gaitista a melhorar, é ruim pq não estimula a diversão, a descontração e o clima bacana de troca de idéias que muitas vezes o palco aberto oferece.

nisso, os encontros do gaita-l e os lançamentos de cd da lista foram bem bacanas. Eu acredito que para a comunidade do gaita-l, é importante haver um palco livre para a galera aparecer e que a diversão é o mais importante nessas ocasiões.

eu acho que as melhores coisas para qualquer gaitista são tão óbvias que até fica meio estúpido enunciar aqui, mas vou fazê-lo assim mesmo

1) estudar música e estudar timbre, prá ganhar desenvoltura e confiança
2) arrumar uma banda para aprender a lidar com o ego alheio, com o próprio ego, com estúdio e com o público
3) ouvir muita música, sempre sem preconceito, mas criticamente
4) tentar se divertir no fim das contas

tem um exemplo muito triste sobre música que não é diversão. Eu tenho um amigo, o Ivan, que tocava violão com a gente e gosta muito de música. Gosta tanto que estudou prá virar engenheiro de som e tem seu próprio estúdio de gravação, hoje. E parou de tocar, pq tocar prá ele agora é trampo e na folga ele não quer nem chegar perto de um palco.

se a música nào é ganha-pão para vc, tente não esquecer a diversão. E se é, tente não esquecer disso tb.

sexta-feira, 10 de junho de 2005

trapaças gaitísticas parte 1

esse é um post que eu planejava postar desde o início deste blog.

antes de tudo, convém enunciar o TAO da Gaita, representado no mantra do timbre entoado pelo mestre Eberienos

Estude, estude, estude. O timbre acústico deve vir primeiro.

as trapaças gaitísticas são os recursos do gaitista que não tem timbre, ou seja, gaitistas como eu. escrevendo este post, estou prestando um des-serviço público aos gaitistas e me rebaixando a coisas piores que a Alanis e o Bob Dylan, os maiores vilões do mundo da gaita.

antes de tudo, o que vem a ser o timbre? no início, como todo gaitista amador, eu achava que o timbre era feito de microfone bullet ligado em amplificador valvulado, ou seja, que era a distorção. Isso tocado numa hohner. Ou seja

timbre (iniciante) = green bullet + marine band + bassman

lógico que isso não é verdade, e o iniciante gasta um bom dinheiro nisso, pq o timbre na verdade significa

timbre (de verdade) = vibrato ou como diz sabiamente o mestre armeiro Bresslau, "a maquininha de garganta"

algumas espécies de pássaros são bons nisso, como os pelicanos. Vc vai ver em documentários do discovery channel várias dessas aves disputando fêmeas vibrando seus gogós, mostrando que de alguma forma eles estão mais aptos à reprodução. Bem, a história do homem na Terra é fazer coisas ridículas para agradar as mulheres enquanto elas fazem de conta que não se importam com aquela bobagem toda pq "homem é assim mesmo". Bem, talvez as mulheres reclamem com razão dos homens.

enfim, o problema do timbre é que ele não sai fácil. é uma técnica que exige um treino constante e estudo, como em qualquer outra coisa da vida. E o pior, depende de cada um. Tem gente que pega isso rápido, tem gente que desistiu de tentar. Mas como a vontade de tocar e de aparecer prevalece, assim como a cara-de-pau, então alguns gaitistas, como eu, lançam mão de trapaças gaitísticas.

vc já leu um bocado de texto e eu ainda não expliquei o que elas são. vamos lá

TG1 - reverb - o reverb é o recurso dos fracos. qualquer instrumento fica melhor com reverb, mas quando vc melhora, vc percebe que seu reverb atrapalha seu timbre. o reverb é uma muleta musical e quanto mais longo, melhor e pior ele é. Tirando o Mark Ford, quase todo gaitista que usa muito reverb está tentando se proteger um pouco. O reverb é o eco e no eco os harmônicos se misturam e vão caindo aos poucos, de forma que tudo parece mais uniforme. Mais uniforme que isso, só com TG2 a seguir

TG2 - drive - o drive é a distorção leve que vêm do microfone, do amplificador e principalmente de um pedal de drive ou do drive do amplificador. O melhor bullet prá drive é o green bullet e o pior é o astatic (o meu). O que a distorção basicamente faz é "cortar" as amplitudes das ondas sonoras, dando aquela impressão de "estouro" no som, deixando-o mais agressivo e mais parecido com o som de uma oficina com várias serras elétricas ligadas ao mesmo tempo. Fica legal à beça. Eu gosto de MUITA distorção em shows com banda. No café infelizmente eu não tenho como fazer isso pq o som acústico se mistura com o som eletrificado e as pessoas rapidamente percebem a jogada, sem contar que eu não posso tocar alto num café. O melhor amigo do drive é o TG3

TG3 - bullet - a função do bullet é ser o microfone diferente do gaitista, como o Diogo nos provou quando fez o workshop dos sweet mama aqui em BH, onde eu e mais outros três ou quatro gaitistas nos juntamos para fazer microfones abaixo de 10 reais com tampas de mamadeira e cápsulas de telefone. Depois pegamos esses microfones e ligamos no amplificador e comparamos com o green bullet e o astatic e concluímos que a diferença é muito pequena, ou seja, a menos que vc seja gaitista, vc não vai perceber muita diferença. O édson chegou a usar em show e o problema do microfone era ganho, ou seja, dava microfonia adoidado, mas vamos falar de trapaças para isso tb. Uma outra banda de amigos meus passaram pelo green bullet até o megafone e terminaram no sweet mama, que usavam em show para microfone de voz. Antes de mais nada, convém dizer aqui que fora uma conveniência de ser mais fácil de segurar com gaita e ter controle de volume, o bullet é puramente uma questão estética, portanto, uma trapaça. Contudo, ele é bonitinho e impressiona as garotas, e isso conta muito. Depender de um bullet é uma droga, pq normalmente ele dá uma microfonia dos diabos ou ele pode simplesmente quebrar ou não funcionar no equipamento. Nessa hora vc vai ter que se virar com o sm58 que tiver lá, portanto convém saber fazer algumas trapaças no sm58 tb.

TG4 - a microfonia - o terror dos gaitistas é a microfonia, pq gaitistas gostam de muito ganho (para dar peso e distorção) ao mesmo tempo que gostam de microfones bullet (que cortam algumas frequências e que normalmente é usado no talo). O segredo para resolver a microfonia é regular o ganho para baixo e dar distorção usando um pedal, ou então usar um equipamento FM que tenha um pequeno delay normal de operação, que evita microfonia. Se deu microfonia, abaixe o ganho. Pedaleiras têm controle de ganho, e isso é a mão na roda.

TG5 - a mesa - a mesa é o que faz o lugar ser bom de tocar. Uma mesa boa te faz tocar melhor. Um operador de mesa bom é um privilégio. Um operador de mesa bom com uma mesa boa sabendo o que está fazendo pode ser a melhor performance de sua vida. Aprenda a regular sua mesa o quanto antes. Passe som antes dos shows. Anote ou decore configurações do seu retorno. Vc não vai se arrepender.

TG6 - truques - aprenda alguns truques e use-os com parcimônia. Devem existir aproximadamente 200.000 classificações taxonômicas diferentes de seres vivos na natureza, e pelo menos umas 20 maneiras diferentes de fazer vibratos e efeitos esquisitos na gaita. Riffs então devem haver uns 150. Trechinhos de músicas incidentais como "fred flintstones", "música de encantar naja", "norwegian wood" tb são truquezinhos pq o expectador ouve, reconhece e ri da brincadeira. Cair de joelhos e tocar batendo a mão no chão igual William Clarke tb é um truque. Subir na mesa igual ao Rod Piazza tb. Cantar no microfone distorcido. Dar beijos na gaita. Movimentar a cabeça rapidamente como se estivesse tentando se livrar de um alien grudado na sua cara tb (Little Walter Head Shake). Jogar o microfone na frente da caixa de som usando um monte de efeitos igual ao madcat tb. Note que os truques difíceis como bend oitavado do Carlos Del Junco não são trapaças, mas truques fáceis são pq o público tende a achar que vc é melhor do que realmente é. Guarde os truques pro final ou para quando a platéia der uma esfriada. Se nada mais funcionar, parta para TG7

TG7 - pedaleira - uma pedaleira faz maravilhas, muito mais que um emulador de amplificador como os V-Amps e PODs da vida. Com um pedal de expressão ainda fica melhor. O problema é que vc não pode abusar senão vc espanta o povo que está lá pelo blues. Fora alguns efeitos muito esquisitos, a maioria dos efeitos continua sendo os mesmos da época do hendrix: flangers, drivers, harmonizers e reverbs. Ninguém precisa de muito mais que isso. Harmonizers com flangers já dão esquisitice o suficiente. O grande desafio aqui é colocar isso na música de forma que fique bom, e não é nada fácil.

TG8 - tocar o que o povo gosta - lembre-se dos irmãos cara de pau tocando no bar country. Eles tomaram garrafadas até que tocassem rawhide. Num show de blues, a menos que sua platéia seja realmente uma joalheria, vc vai ser forçado a tocar "everyday I have the blues", "sweet home chicago" ou "got my mojo working". Ou pior ainda, "hoochie coochie man". Em contrapartida vc pode tentar tocar essas músicas de forma diferente, mas quanto mais diferente, menos o pessoal vai gostar. Infelizmente é assim que funciona, na maior parte das vezes. Bom mesmo é não ter que viver de música.

TG9 - caretas - caretas ajudam, especialmente nos solos. Vc nem precisa tocar bem (normalmente as pessoas nunca sabem quando um gaitista toca bem, exceto quando vc é gaitista tb) mas se vc fizer caretas suficiente e parecer que está brigando com seu microfone e, mais importante, parecer que está perdendo a briga, as pessoas tendem a gostar e a aplaudir, nem que seja para terminar com aquela coisa incômoda. Isso tb serve prá nota interminável. Eu queria tentar um dia trapacear fazendo a nota interminável usando um pedal de sustainer e manter uma nota, digamos, uns 10 minutos, mas tenho medo que as pessoas comecem a dormir na platéia. Evite o truque da nota interminável, por mais que isso lhe pareça excitante e que mostre como vc tem um bom controle de fôlego, diafragma, respiração circular e de não entrar em pânico sem ar suficiente para oxigenar seus órgãos vitais. Lembre-se do pelicano, a pelicana pode não estar nem aí. Um indicador de que eu tenho razão é que o Kenny G detém o recorde da nota mais longa do mundo e todo mundo sabe o quão chato ele pode ser.

TG10 - velocidade - não é um truque, mas pode virar um. A tendência do gaitista rápido e tocar tudo rápido e todos os solos irem ficando cada vez mais rápidos. O problema basicamente é que o gaitista tende a se orientar pelos aplausos, e se ele ganha mais aplausos quando é rápido, ele vai querer ganhar aplausos o tempo todo e vai começar a tocar rápido o tempo todo. Os solos vão ficando cada vez mais rápidos e cada vez mais longos. Até que um dia vc vira o Sugar Blue ou o John Popper e todas as suas músicas têm solos parecidíssimos, embora todos incríveis, de forma que o gaitista vai adorar ouvir, mas muito pouca gente além disso tb.

as trapaças são um recurso de todo gaitista. um iniciante pode rir desse texto identificando suas próprias trapaças (ou eu recomendo que poste as trapaças ausentes como comentários desse post) mas um profissional vai tentar esconder o riso pq certamente ele tb tem suas trapaças... o fato é que no fim das contas, a habilidade importa muito e faz muita diferença, mas a música faz mais. Pense na quantidade de bons músicos fazendo música chata que existem por aí e na longevidade dos Ramones, com seus 3 acordes. Não tou falando prá todo mundo tocar punk rock, tou falando que não basta ser um puta músico, tem que fazer música boa e não preocupar tanto com as trapaças.

quem quiser saber mais sobre trapaças, pode ir me ver no Letras e Expressões da savassi toda santa sexta, 21:00...

on the stage - canja com carla picorelli em lavras novas

(...)combinamos de ir para Lavras Novas na semana santa. Lavras Novas é um vilarejo no alto de uma montanha atrás de Ouro Preto onde muitos anos atrás era reduto de bichos-grilos. Hoje já foi tomada pelos marombados descamisados que estacionam suas caminhonetes na porta de bares tocando música da bahia. Enfim.

Enfim que de noite, a gente foi para um buteco próximo naquele frio úmido e naquela neblina constante para um lugar bacana onde tinha um show da Carla Picorelli. Bem, o show dela é agradável, voz e violão, repertório anos 80. Ela toca violão muito bem (mas equaliza a mesa melhor ainda) e canta muito bem tb. E mantém o espírito do show alegre e descontraído.

Como a ocasião faz o ladrão, a Lud vai lá e canta prá Carla que o Kenji queria dar uma palhinha (sabe aquela coisa do seu amigo falar prá menina que vc está a fim dela? ridículo, não?) e rola a tal palhinha. O Kenji toca um bluesinho-janis-joplin (sim, o Kenji tb toca bluesinho-janis-joplin. na verdade ele tem um caso de paixão com a janis joplin) e parece que ficou legal. O Kenji fica feliz nesse dia. Se existem homens que são cavalheiros, Carla Picorelli é uma dama.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

porta gaitas do mário

desculpem a propaganda descarada mas...

já estou com o porta-gaitas novo que o Mário Valle fez. Vou inaugurá-lo hoje no letras e expressões (21h)

quem quiser comprar e quiser dar uma olhada, achei que o produto melhorou MUITO em comparação às versões anteriores (tanto que já comprei o meu...)

o mário deve divulgar um site com os preços mas eu já estou sabendo quanto vai custar (só não estou autorizado a postar isso aqui...)