foi quando a gente conheceu pela primeira vez, ao vivo e à cores, várias pessoas do gaita-l.
pelas contas, eu tinha 25 anos (14+11). Como eu tenho hoje 32, é de 7 anos atrás este texto.
Prezados leitores, acompanhei nos dias oito e nove desse mês uma caravana de gaitistas malucos por Blues. A primeira parada do nosso Bluesmobile, como a Van foi apelidada, foi o show Tributo à Gaita Blues, que aconteceu na madrugada de sexta para sábado na tradicionalíssima casa de espetáculos Delta Blues Bar, em Campinas/SP. Participaram do show os principais nomes da gaita no Brasil: Dr. Feelgood; Benevides; Vasco Faé; Robson Fernandes; Big Chico; Flávio Guimarães; Rodrigo Eberienos, Sérgio Duarte; Luis Fernando Lisboa e Márcio Maresia. Cada um deles homenageou um gaitista consagrado do Blues. Ao mesmo tempo, acontecia o Encontro Nacional do Gaita-List, uma lista de discussão que reúne mais de 250 aficcionados pelo instrumento, desde 99. O encontro foi um espetáculo à parte e se estendeu até sábado à noite quando a galera se reencontrou no Bar Oscar's, em Sampa.
A minha intenção, quando viajei com esse povo, era cobrir os dois eventos para o 700 km. Fiquei absolutamente maravilhada com a qualidade do som que eu ouvi e, também, com a qualidade das pessoas que encontrei nessa viagem. Mas o fato é que a emoção que senti não pode ser comparada a das outras pessoas que vivem e respiram Gaita e Blues 24 horas por dia. Por essa razão resolvi ceder meu espaço. O texto abaixo é do Leonardo Kenji Shikida, um cara que há 11 anos iniciou-se na gaita, descobriu o Blues e depois nunca mais parou. Também é responsabilidade dele a organização do primeiro CD da lista, que pode ser adquirido através do e-mail kenjishikida@brfree.com.br.
O único comentário que não posso deixar de fazer é que todos aqueles que estiveram por lá, ouviram aqueles músicos e dividiram aquela emoção, se tornaram, certamente, um pouco mais gaitistas. Acho que até mesmo eu. Para saber mais, entre no site www.geocities.com/gaita_l.
Com vocês, o Kenji:
Tudo começou 15 dias antes do show. Quando a galera ficou sabendo que ia ter um show com dez gaitistas da pesada tocando três músicas cada, de uma vez só. Ficou meio evidente que ia ter neguinho indo a pé prá assistir, daí a idéia do encontro no dia seguinte em SP.
Desde o CD do gaita-list, a turma de gaitistas foi se entrosando cada vez mais, enquanto eu reunia o pessoal daqui de BH. É o tal negócio: quando você gosta muito de uma coisa que pouca gente gosta, acaba procurando seus iguais e confabulando a revolução russa no
quintal...
A galera foi se organizando bonitinho e tal. Chega na véspera, o cara da Van fura com a gente. A coisa começa a ficar cara e a situação complicada. Na véspera da viagem nós demos um show no Reciclo, eu cheguei em casa e dormi às duas da matina e acordei seis da matina e começar a olhar preço de Van e tudo mais. Com muita sorte, encontrei um cara que fazia um "desconto de 10% na primeira viagem" e viabilizou o preço. Fui trabalhar na parte da manhã e marquei com o pessoal às 11h30min na minha casa. Atrasou uma porrada de coisa e só saimos da cidade por volta de 14 horas. Detalhe: o show estava marcado para começar em Campinas às 23.
Foram 7 horas de sonzeira, muito violão, muita gaita, tensão de chegar atrasado e não entrar, som na caixa o tempo todo. O motorista era muito gente boa e até gostou do som... Chegando perto de Campinas, um caminhão caído no meio da estrada... a gente ia morrer na praia....
Mas que nada, chegamos a tempo, às 21h30min. Comemos um pastel de vento e entramos por milagre no Delta Blues, que é um bar tradicional de blues que existe há 9 anos e por onde passaram todos os bluesmen brasileiros que se tem notícia. O lugar é apertado e ficou simplesmente intransitável, só que era a maior densidade de gaitista por metro quadrado do Brasil. Você andava dois metros e trombava no Sérgio Duarte, mais dois metros e trombava no Benevides. Mais dois metros e era o Flávio Guimarães... quando não encontrava com a galera da lista do RJ, SP e Santos...
O show mesmo foi até 4h. Infelizmente tínhamos hora prá chegar em SP, no albergue da Praça da Árvore. A dica do lugar foi da Clara Machado, uma espécie de "Nélson Motta" de São Paulo. Senão teríamos ficado até às 7 da manhã, quando se encerraram as JAMs.
O pessoal da lista, por incrível que pareça, não tinha um chato sequer. O show, que só tinha gaitista de primeira, teve dois momentos especiais prá mim que foram o Benevides, que vai ter que vir a BH de algum jeito dar um show com a banda dele de Curitiba, a Mister jack. Rápido... o homem é MUITO rápido na gaita. E o Rodrigo Eberienos, que pegou carona com a gente no Bluesmobile várias vezes e se especializou em tirar Mark Ford, o cara que toca o meu blues favorito (vide http://www.brfree.com.br/~shikida/blues.htm). Antes do show, cheguei a perguntar se ele tocaria igual ao CD "Here we go." Tive como resposta: "Olha, eu consigo tocar igual, mas aqui eu vou fazer o meu solo". Não pude ver, só pude ouvir, de tão empapuçado que o lugar tava mas eu juro que não era só o cara, era a banda de apoio também. Eles ensaiaram CADA nota, e o Eberienos tocou com perfeição de timbre... até o solo, quando ele fez, foi o dele mesmo. Só isso já valeu a viagem inteira. Quem viu disse que o vocalista chorou no fim da música. Pode até ser álcool, mas a galera chorou por dentro nessa música com certeza.
Aí deu a hora de ir embora e foi todo mundo pro albergue, que é o oposto do que eu sempre achei que fosse um albergue. O lugar era organizado, limpo, simpático, civilizado, confortável e, pasmem, barato! No mesmo albergue, o motorista da Van começou a ganhar umas aulas de gaita gratuitas com a galera.
De lá, fomos para o encontro da lista. O dia anterior foi só para ouvir, aquele era o dia de tocar. Conheci pessoalmente gente da qual eu já era muito amigo. Até um cara que foi o primeiro cara que eu vi ter uma página de banda de blues nacional na web com quem sempre tive o maior respeito e amizade. E foi aquela JAM gigante, a galera se divertindo e cada hora era um no palco... cara, que noite...
Depois o Eberienos deu uma demonstração de virtuose na mesa do buteco que deixou muita gente com vontade de jogar a gaita fora... O cara emendou uma sequência de forrós na gaita de blues que só vendo para acreditar.
Fechamos o Encontro em uma pizzaria e voltamos, todo mundo morto de cansaço e de alma lavada... A fita de vídeo já foi editada em SP e deve estar sendo vendida por estes dias. O pessoal de SP e do RJ ficou sabendo que existe um bando de loucos em BH e um dos gaitstas do show, um dos mais criativos na minha opinião, o Dr. FeelGood, pode vir a BH em agosto/setembro para um showzinho. Ele já chamou a galera para aparecer e dar uma canja com ele. Dane-se se a gente tocar mal, passamos vergonha mas tocamos com o cara a todo custo!
Foi uma viagem muito boa. Foi um pessoal muito bom no Bluesmobile. Foi um pessoal muito bom de SP, RJ e Campinas. Vi um monte de gaitistas pessoalmente e meu saquinho de gaita quase não tem mais lugar para autógrafo. Ouvi coisas inacreditáveis na gaita. Conheci um dos bares mais tradicionais de blues do país. Toquei Summertime, e Na baixa do sapateiro.
Eu não adorei a viagem, eu amei a viagem e assim que puder, faço tudo de novo. E se rolar de organizar o próximo aqui em BH, a gente faz uma quebradeira aqui. Tem fotos e tem a fita de vídeo a caminho. E eu vou gostar mais ainda da minha música favorita. Eu não mereço? Ah! Eu mereço sim!!!Yeah!!! Como diria o John Lee Hooker, I'll never get out of this blues alive!!! E não vou mesmo!!
(Lud e Kenji, de Belo Horizonte)
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