segunda-feira, 21 de novembro de 2005

grossi e a expressão na gaita

engraçado como são as coisas. fui ver o grossi aqui em BH, num festival internacional de música com violão, no décimo quinto andar de um prédio que tinha um auditório com 600 lugares, completamente desconhecido para mim. Showzaço. A dupla que gravou "affinity" (que eu comprei e levei para autografar) simplesmente é de desmontar o queixo. Comprem o CD e vejam o show pq é de arrepiar.

rasgada a devida seda, tem duas coisas do show do grossi que eu achei interessante. uma que ele tem muito bom gosto (comum entre os gaitistas de cromática, não sei porque) e que ele é muito econômico nos vibratos, o que não impede que o som seja ótimo, mas que demonstra uma característica de estilo. É engraçado, mas enquanto os gaitistas de diatõnica passam anos atrás de um bom vibrato, o uso dele na cromática do grossi e no de vários outros gaitistas de cromática não parece ser algo tão frequente.

a outra é a diferença de expressividade entre o violão e a gaita. são formas diferentes. o violão cria climas, mas a gaita é mais orgânica, certamente por ser um instrumento de sopro. Enquanto o violão não permite que se mude o volume de uma nota facilmente depois de dedilhada a corda, a gaita permite inflexões de dinâmica e volume do som que lembram bastante a própria fala, de forma que eu acabo achando, no meu modo, a gaita um instrumento incrivelmente expressivo.

claro que expressão depende muito tb do feeling de quem toca e de quem ouve. Ray Charles ao piano pode ser mais expressivo que qualquer gaitista, mas eu realmente acho o violão um pouco menos orgânico. Até comentei com a Lud no carro enquanto voltava, que eu tinha lembrado pq eu gosto mais de gaita que de violão.

e essa história de música e expressão me lembrou de um livro que eu li (eu confesso, era "o livro de ouro da mente", da ediouro, leitura nada gabaritada cientificamente) que dizia que uma das manifestações mais complexas da nossa inteligência certamente é a comunicação, pq exige praticamente todo o aparato lógico, cognitivo e de abstração, e que a mesma área do cérebro que processa música processa linguagem, de forma que talvez, a música tenha sido algo parecido com as primeiras tentativas de comunicação. É esquisito pensar em termos racionais sobre um conjunto de sons que provoquem emoções, e mesmo as emoções de quem ouve música podem ser confusas tb. Mas o fato é que música tb é uma forma de comunicação, portanto um fator socializante.

mas vou deixar as elucubrações filosóficas e fisiológicas e musicais para outro dia. fica aí só o fio da meada para quem quiser desfiar o novelo.

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