segunda-feira, 30 de maio de 2005

blues autodestrutivo

cada um entende o blues de um jeito. o blues pode ser uma forma de vc extravasar seu ego, sua habilidade, pode ser a cura da dor, pode ser o motivo da dor, pode te fazer sofrer, pode te fazer feliz. eu acho difícil até entender o blues eu mesmo.

antes que algum garoto de 20 anos ou menos venha me chamar de véi e tentar resumir o blues a um ou dois estereótipos, deixe-me subir no alto da minha caixa de sabão e dizer aqui que eu amo o blues de coração. não digo que ame o blues mais que qualquer outra pessoa no mundo, mas meu amor é sincero.

o primeiro blues que eu ouvi se chama first time i had the blues do buddy guy num festival em berlim. já chorei por causa de muito blues. já curti muita mágoa. já fui muito triste, já me senti muito só. já toquei muita gaita chorando. já andei muito de madrugada na rua cheio de bebida na cabeça e achando aquilo o máximo do romantismo. já tive 20 anos tb, véi.

meu blues é autodestrutivo. é um jogo sadomasoquista comigo mesmo. é triste para que alguém que realmente entenda fique feliz e triste em ouvir. por isso que eu nunca larguei a música. por isso que aqui em casa tem um teclado que eu não sei tocar, um violão que estou aprendendo, gaitas que eu toco sem técnica (mas com um bom ouvido), e por isso que sempre simpatizo com músicos e me sinto à vontade perto deles, falando de música. No fundo, o meu blues é querer recuperar meus 20 anos, minha juventude strictu sensu, pq se aos 30 vc não é velho, vc tb não é ingênuo e romântico como quando tem seus 20. Eu rezo para chegar aos 50 como o Zé Raimundo, com amplo trânsito entre os de 20 e os de 30, sem abrir mão de tudo o que ele obteve com a vida.

quando eu lia o blog do eisinger falando das durezas da vida e dos livros do bukowski, eu me lembro de mim aos 20. eu lembro que eu amava o frio e a noite. Estranhos subterfúgios das pessoas que precisam lidar de alguma forma com alguns tipos de solidão. A solidão, a noite, a bebida e o blues.

alguns levam isso a sério e vão viver a vida do Jack Kerouac ;-)

6 comentários:

  1. Sim Kenji, tinha meus 20 anos e muito mais paciencia pra ser triste... Uma coisa engraçada é que senti que gostava de blues gaita e q as coisas mudaram aops uma grande fossa... Aprendi a valorizar esses momentos ruins e tentar reverter em musicalidade...

    eisinger

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  2. por sinal, vc precisava vir a bh destilar essa musicalidade nas casas de chorinho. onde eu toco toda quinta tem chorinho... rolava uma canja sua lá FÁCIL... ;-)

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  3. E o medo onde fica? To comecando no choro, nao sei se consigo segurar a bronca nao... Hoje tive a sorte de tocar com um trio formado pelos melhores musicos daqui, toquei Estamos ai do Mauricio Einhorn, deu uma tremedeira...

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  4. e quantas vezes o einhorn veio a BH? já estamos no lucro, meu filho...

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  5. UAU!

    encontrei seu blog por acaso, e adorei o texto...sou nova, e ainda tenho essa engenuidade que voce mencionou.
    eu toco bateria, e estou começando a embarcar na gaita, sempre me interessei por blues independente dos instrumentos, bom...

    Só pra deixar meu rastro por aqui :).

    Lêda.

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