[publicado no Portal Gaita-BH em Janeiro de 2004]
Assim como toda religião tem algum tipo de peregrinação, o gaitista brasileiro também precisa conhecer a fábrica da Hering. Em Dezembro de 2003, eu fui finalmente conhecer a fábrica da Hering em Blumenau, Santa Catarina.
O primeiro passo era, evidentemente, tentar agendar com certa antecedência a data da visita, pois apesar de toda a boa vontade que o pessoal da Hering dispensa aos seus visitantes, a fábrica não pode parar sua produção só para colocar um funcionário à disposição do visitante para o tour dentro da fábrica.
Assim, entrei em contato com o Benevides Jr. (veja a entrevista desta edição), que estava em Florianópolis para um show na John Bull, e perguntei qual era o caminho das pedras para conhecer a Hering. Lógico que eu já tinha combinado isso com ele 15 dias antes de viajar para Santa Catarina. Felizmente, ele precisaria ir à fábrica e poderia ir lá comigo.
Cheguei na fábrica em pleno clima de fim-de-ano, quando os pedidos são mais intensos e uma semana antes das férias coletivas. A fábrica a todo vapor. A Hering consiste em 3 grandes galpões e uma casa onde funciona o administrativo. No administrativo, que tem dois andares. Lá ficam expostas dezenas de gaitas-chaveiro e as gaitas mais importantes da Hering num expositor. E fiquei conhecendo finalmente a Nadine, que normalmente é o primeiro contato do gaitista com a Hering.
Então começou a visita propriamente dita, Benevides de cicerone. Entrando pelo galpão do meio, está a afinação de diatônicas e o processo de montagem e embalagem da Hering. Lembrando que a Hering não faz apenas gaitas, mas também faz suportes para teclados, cavaletes de partituras, guitarras, flautas doces, contrabaixos e mais uma gama de produtos, embora a gaita continue sendo o principal produto da fábrica. As gaitas diatônicas da Hering são afinadas manualmente, uma por uma, três vezes, seja o lote para exportação ou não.
Mais à frente está o setor de montagem e embalagem, onde diversas pessoas montam as gaitas, colocando as palhetas, conferindo o offset e o alinhamento das palhetas. Algumas máquinas, como a máquina de colocar rebites nas palhetas, operada por um pedal, são um verdadeiro sonho de consumo dos gaitistas que fazem manutenção e troca de palhetas.
A visita continua, agora para o primeiro galpão, onde ficam as máquinas pesadas, importadas da Alemanha, que fazem a maior parte do processo de construir o que interessa: as placas de vozes. O galpão é bem grande e você pode ver todas as etapas do processo, do corte do latão à produção das palhetas, o corte das placas de vozes e prensagem das armaduras. Inclusive, pude ver o protótipo do próximo lançamento da Hering, a cromática de 40 vozes, que deve trazer mais munição aos gaitistas.
Logo em seguida, entramos num setor separado onde fica o filé da Hering: as cromáticas. O processo de montagem e afinação é coordenada pelo Valdeci. O processo, todo manual, ainda conta com a ajuda de um aparelho afinador que é uma verdadeira antiguidade, mas que como muitas antiguidades, funciona muito melhor que os afinadores eletrônicos atuais.
Voltamos então ao galpão do meio para conhecer as máquinas de beneficiamento de plástico, que fazem desde os corpos de plástico e acrílico das gaitas às peças mais genéricas dos cavaletes e flautas doces. No fundo deste galpão, funciona a oficina onde são montadas e pintadas as guitarras e contrabaixos da Hering, o mais novo filão de mercado que a empresa está explorando.
Passamos então para o terceiro galpão, a marcenaria, onde são feitos tanto os corpos das guitarras e baixos como os corpos de madeira das gaitas da Hering.
Ao final da visita, ainda tive a cara-de-pau de pedir para a Nadine algum material promocional da Hering (posters, catálogos), rebites e borrachinhas de cromática, que me foram cedidos com toda gentileza.
Em seguida, ainda emendei um almoço com o Bené, onde batemos um longo papo e onde discutimos um monte de coisas sobre a Hering, a Gaita, a Música, que realmente foi muito interessante. É sempre bom ouvir o ponto de vista de quem está do lado da fábrica.
Minhas conclusões sobre a visita? Primeiro, gostei muito do pessoal da Hering. As pessoas são amáveis e gentis (pelo menos foram comigo) e dão duro, tiram água da pedra para fazer as gaitas. A visita te faz respeitar mais o trabalho daquelas pessoas. Segundo, a Hering não era tão pequena quanto eu imaginava. Terceiro, o gaitista precisa sempre exigir mais qualidade das gaitas, pois toda empresa precisa de feedback dos clientes, mas o gaitista precisa tomar cuidado ao reclamar. Saber sugerir melhorias e enviar reclamações é fundamental. São pessoas que estão lá, te ouvindo. Quarto, se você é gaitista, não deixe de visitar a Hering, pelo menos uma vez na vida. Eu me senti na fantástica fábrica de chocolates...
Links:
http://www.heringharmonicas.com.br/index.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário