quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Música estranha prá gente esquisita

[publicado no Portal Gaita-BH em Fevereiro de 2002]

Este fim-de-semana eu aluguei o filme "Cliente Morto Não Paga", com Steve Martin. Provavelmente, um dos filmes mais engraçados e inteligentes que eu já vi, uma homenagem aos filmes noir do cinema preto e branco, com vários trechos de filmes clássicos. Uma passagem que chama a atenção é quando o detetive interpretado por Steve Martin está no vagão do trem e encontra com o galã Cary Grant. A piada é incomodar o galã, então Steve Martin tira do bolso uma gaita e começa a tocar até que o galã se retire.

Verdade seja dita, eu comecei ouvindo gaita com o blues. Com o tempo, continuei com a gaita e diminui um pouco com o blues. Não enjoei, mas comecei a procurar outras direções a seguir. Afinal, tem tanta música interessante por aí que seria covardia ouvir um gênero só o tempo todo. Nada contra as paixões musicais, mas outras praias podem ajudar bastante o gaitista a abrir um pouco a cabeça, que como diz um ditado, funciona como o pára-quedas: aberto.

E é justamente sobre essas músicas estranhas com gente esquisita tocando que eu quero falar um pouco neste espaço.

Uma gaita que dá umas idéias legais é a gaita percussiva da banda Amparanoia. Quem mora em BH e já foi ao Paco Pigalle já deve ter ouvido a música do Manu Chao "Welcome to Tijuana" numa versão bem mais dançante, praticamente um mambo. A gaita está lá.

Outra gaita, já não tão estranha, é a do Brendan Power, que toca bem qualquer estilo, mas que se destaca pelo trabalho que faz tocando músicas celtas. Vocês já devem ter conferido no CD do Gaita-L 2 do ano passado.

Virtuose na gaita aparece na cromática do excelente austríaco Franz Chmel, cujos CDs só são vendidos pelo próprio. Um expoente da música clássica e da música barroca.

No terreno do forró, Rildo Hora arrasa. Ele está nos CDs da série "Casa do Samba" e no excelente "Sanfona e Realejo", com Sivuca. Imperdível.

J.J. Milteau também sempre inclui algumas músicas africanas em seu repertório, como a música "Soweto"

Tom Waits, cujo som é uma das melhores coisas do underground bizarro, tem Charlie Musselwhite e barulhos de galinhas cacarejando em "Chocolate Jesus".

A megabanda "Macaco", do selo espanhol Poder Latino (fiquem de olho nesses caras!) tem a "Na de ti", com alguma gaita também.

Mário Valle me trouxe da Alemanha um vinil de uma banda de punk rock que tem um gaitista, e dos bons! Die Asozialen Superhelden.

A música eletrônica merece um tratamento à parte. Se a gaita mudou sua sonoridade no pós-guerra com a amplificação e eletrificação (do som do microfone para o som do ampli valvulado e sua distorção característica), hoje experimentamos o som da gaita com pedais de efeitos (Peter Madcat Ruth em seu CD "Gone Solo", Rodrigo Eberienos, no CD 3b do CD do Gaita-L deste ano, Paul DeLay...), com emuladores de amplificadores (Leandro Ferrari, em seu trabalho com a banda Jam Pow!) até os extremos da música eletrônica propriamente dita, sampleada e sequenciada. Deste últimos, temos a música "Trosses Tranho" do Osmar, no CD 3a do CD do Gaita-L deste ano, que foi inspirada na música do filme "Eu, eu mesmo e Irene", "Fire Like This", de Hardknox (não consta na trilha original em CD). Ainda, existe um funk carioca que sampleou uma gaita, mas cujo nome eu esqueci. Mas lembro que era possível baixar no site www.remix-nervoso.com.br

Fechando a galeria das músicas esquisitas, a mais esquisita de todas: a banda Soul Junk, que basicamente é música eletrônica com bases sampleadas de música clássica e letra gospel (mesmo), também tem alguma gaita em seus samplers em "Monkey Flower & Yarrow".

Viu? Quem disse que gaita era só para blues e roqueiros pop? ;-)

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