quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Um bate papo com Leandro Ferrari e o que vem por aí em BH

[publicado no Portal Gaita-BH em Outubro de 2004]

Quando eu sentei na mesa do café três corações para conversar com o Leandro Ferrari sobre os projetos e o que há por vir em BH de eventos gaitísticos, mais do que um entrevistado, Leandro é um velho amigo, de tempos em que nós dois éramos os únicos rapazes da cidade que conseguiam conversar sobre Charles Ford Bluesband. Eu não sou jornalista e o Leandro não era o entrevistado, mas eram dois velhos conhecidos conversando sobre gaita.

Muito antes da internet e do mp3, Belo Horizonte era uma cidade que só conhecia dois gaitistas. O mestre Marcelo Batista, grande gaitista que se estabeleceu como referência em cromática e recentemente na diatônica, e o jovem Leandro, que tocava aos 15 anos na legendária banda Companhia do Blues, 14 anos atrás. Naquela época, não haviam muitas bandas e o conhecimento era esparso e pouco. Cheguei a pegar algumas aulas com ele mas nunca tive a disciplina e o tempo necessários. Mas sempre houve o clima de camaradagem e respeito mútuos. Assim, este pequeno artigo não tem a isenção e a distância necessária para ser isento ou crítico, mas tenta trazer informação ao desinformado público mineiro sobre o que vem por aí e sobre quem é o gaitista e amigo Leandro Ferrari.

Leandro começou aos 15 autodidata. Como todo autodidata, e sem professores de diatônica em BH na época, precisava viajar nos fins-de-semana para São Paulo, onde tinha aulas de diatônica com Sérgio Duarte. "BH sempre esteve dez anos atrás de São Paulo", diz Ferrari, "Quando eu tinha aulas com o Sérgio, ele já me avisava que seus alunos se tornavam seus concorrentes, dando aulas também. Hoje, eu passo pela mesma coisa, mas tenho orgulho disso, eu consegui construir alguma coisa"

Depois da Companhia do Blues, Leandro participou do Mandinga Bluesband, onde teve a oportunidade de abrir o show do The Fabulous Thunderbirds, tocando no mesmo palco do Kim Wilson. Depois passou vários anos no The Nasty Blues do guitarrista Bruno Avanzato até participar da banda de pop-rock Jam Pow. Enquanto participava do Jam Pow, abandonou a gaita blues e entrou num período de experimentalismo, tentando criar uma linha que explorava texturas diferentes e riffs dentro da proposta da banda. Na Jam Pow, teve oportunidade de tocar em grandes festivais como o Pop Rock, para públicos de 40.000 pessoas e trabalhar com produtores como Haroldo do Skank e John do Pato Fu. A Jam Pow abriu as portas do primeiro escalão da indústria fonográfica, tendo participado de trabalhos de Lô Borges e Skank (regravação de "Vamos Fugir" de Gilberto Gil).

Atualmente, está com vários trabalhos. Este ano, tocou com uma banda de Madrid chamada Machaka Groove, comandada pelo excepcional guitarrista mexicano Emiliano Juarez, seguindo uma linha inspirada nas batidas do trance e do drum´and´bass, utilizando extensivamente pedais e emuladores de amplificadores como o POD-XT e o V-AMP. O Matchaka volta a BH em Novembro e fica em Macacos até Março, provavelmente trabalhando num CD produzido pelo vocalista e produtor Rogério Flausino (Jota Quest).

Também mantém um trabalho regular chamado Compadres, numa linha mais acústica, com repertório de rock e blues. Confira os shows do Compadres na agenda dessa edição. Todo mês organiza o Garage da Caza Bluesband, na casa de shows homônima, com músicos que participavam do cenário do blues em BH.

Com a volta da Companhia do Blues, Leandro também participa como gaitista da banda. E finalmente, seu trabalho mais importante, com o guitarrista Rafael (ex-Nasty Blues), possui um trabalho experimental e instrumental, dançante, com fortes influências de música eletrônica. O CD desta formação já está sendo produzido e estará disponível em breve. Uma faixa deste CD, exclusiva, está disponível em nosso site no final deste artigo.





"todas as músicas (deste cd) têm a utilização de pedais, que alteram o timbre do instrumento, que é uma coisa arriscada, porque o que a gaita tem de melhor é o timbre dela. Agora, se os guitarristas da época do Jimi Hendrix não tivessem feito isso... deste Little Walter, na época da eletrificação da gaita (...) todo gaitista de blues quer ter o timbre do Little Walter (...)"

Em 2000, organizou o Minas Harp, trazendo o gaitista Jefferson Gonçalves e organizando shows e workshops. Este ano, pretende trazer de volta o Minas Harp agora em Dezembro. Nomes que estão sendo considerados para participar do evento são os gaitistas Rodrigo Eberienos e Thiago Cerveira. O Minas Harp este ano deve contar com a co-produção de José Raimundo e render dois shows, um com banda no Garage da Caza e um show acústico no Palco Paladar, ambos no fim-de-semana.

Leandro também é professor de gaita e desenvolveu, na escola de música Pró-Music, onde lecionou por oito anos, um método próprio baseado em métodos de guitarra, tentando ensinar gaita sem associar obrigatoriamente o instrumento ao blues. Enfatiza bastante o estudo da primeira e quarta posições, ao invés da ênfase tradicional à segunda e terceira posição, mais tradicionais do blues. "Nenhum guitarrista aprende a tocar com "Oh Suzannah". (...) A gaita infelizmente está muito presa ao blues e isso é ruim para a gaita, porque instrumento nenhum está preso a estilo musical nenhum"

Em termos de estilo, Leandro diz, hoje em dia, estar muito mais influenciado por guitarristas que por gaitistas, especialmente Tom Morello (Audioslave / Rage Against The Machine). A grande influência de riffs foi o gaitista Flávio Guimarães (Blues Etílicos). Toca cromática, mas admite que sua praia é a diatônica. Usa electrovoice 630, lee oskars (muito por causa da durabilidade e das afinações especiais)

"Agora eu tou feliz prá caramba porque este ano é o primeiro ano que eu estou tocando com os meus alunos (...) dividir o palco com outro gaitista em Belo Horizonte levou dez anos prá acontecer, e tá acontecendo agora"

Site oficial: www.leandroferrari.com

O Portal Gaita-BH agradece a colaboração de Leandro Ferrari.

Um comentário:

  1. oi Diogo ,me manda as fotos do mic eo valor no meu mail alemaodagaita@gmail.com
    um grande abraço
    alemão

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