quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Novidades no cenário da música instrumental brasileira (A gaita cromática em evidencia)

[publicado no Portal Gaita-BH em Dezembro de 2003]

A música instrumental brasileira é praticamente um oceano de talentos e ilustres desconhecidos, que hora ou outra acabam por emergir para o público como grandes referências e promessas de um mundo melhor para a nossa desgastada cena musical.

É bom saber que dentro desta cena temos músicos do nosso “grande” instrumento se destacando, se não para o público em geral, pelo menos para o público mais especifico, o que não limita as chances da grande massa de escutá-los, já que a qualidade está aí para todos.

As surpresas interessantes que eu tive foi Gabriel Grossi e Vítor Lopes, ambos gaitistas de cromática que lançaram trabalhos recentemente e que mostraram que não estão brincando quando o quesito é qualidade musical.

Conhecido dos amigos que estiveram no I Encontro Internacional de Gaitistas, Vítor Lopes mostra um ótimo trabalho com “Um Trio Vira-Lata”, recém apresentado e gravado no Instrumental SESC Brasil (aliás o SESC é a secretaria de cultura, pelo menos no estado de São Paulo, que qualquer cidade gostaria de ter). Uma ótima performance deste trio se apresentando ao vivo, com uma repertório de músicas próprias e regravações interessantes, como por exemplo “Corta-Jaca” de Chiquinha Gonzaga, pérolas musicais, onde Vítor não esconde o talento mostrado na Benedito Calixto, a praça do choro próxima à Vila Madalena, e que o gaitista homenageia na música “um passeio pela Benedito Calixto”, um ótimo choro, que me deixou com uma certa inveja, como em todas as músicas e os musicos que o acompanham... Grata surpresa ver esse nome ser citado por músicos como Alessandro Penezzi, grande nome do violão e da música instrumental e que está freqüentemente tocando no bar “Ó do Borogodó”, onde já soube que o Vítor já tocou.

IMPRESSIONANTE também, devo deixar bem claro, é o trabalho do gaitista de Brasília Gabriel Grossi, o qual tive a impressão que já apareceu brilhando, quando soube que participou do Prêmio Visa de Música Instrumental, surpreendendo muitos dos que não estão acostumados com a gaita em outros universos musicais. Elogiado pela crítica e por ótimos músicos e instrumentistas, valendo ressaltar o grande violonista e compositor Guinga, debutou em um cd recheado de grandes participações. “Diz que fui por aí” surpreende pela qualidade de gravação e ótimas músicas, onde temos o frevo “Os Curupiras” composição própria com participação de Hermeto Pascoal, “Quando Monk vir a Lobos” de autoria e participação do violonista Marco Pereira e Hamilton de Holanda na faixa “Viajando pelo Brasil” (Curti muito essa música, quem me dera tivesse tido a capacidade de tocar arranjar tão bem). Claro que existe muito mais neste Cd, mas deixo para vocês descobrirem (Como com o cd do Vítor) o quanto o cd é bom. Mas não posso esquecer de falar do choro Rebuliço de Hermeto Pascoal que é impressionante, tamanha a velocidade e complexidade deste tema.

Como informação técnica, posso dizer que choro e musica instrumental brasileira na gaita não é fácil e exige muito estudo e feeling, fator que não exclusivo da gaita diatônica e do blues, já que muitos dos casos tem como requisito não só ter uma boa leitura de partitura ou técnica, mas uma grande vivência musical, estando nas “rodas” de choro, tocando e errando também, o que é necessário. Se adaptar a tocar notas com a devida precisão, no tempo certo, fluência e controle e improvisar com propriedade em harmonias tão difíceis faz com que respeitemos cada vez mais tais gaitistas, estão aí os grandes nomes da cromática que não me deixam mentir.

Escrevo este texto na expectativa do III Encontro Internacional de Gaitistas, onde a ansiedade de ver o Mark Ford e por exemplo o Otávio Castro (que toca jazz na diatônica), sem deixar de me referir aos outros grandes gaitistas que vão estar tocando... Um ótimo presente de Natal antecipado.

Rodrigo Eisinger

(Rodrigo Eisinger encostou numa gaita pela primeira vez em 97. Começou a fazer Física na UFSCar mas percebeu que levava mais jeito prá música que prá Física, então hoje estuda Música Popular na Unicamp, tocando bastante cromática por lá. Gosta de ritmos nordestinos, Jazz, Blues, Erudito, música Celta, Árabe e Indiana. Curte Levy, del Junco, Weltman, Power, Harper, Galison, Toots e Little Walter)

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