[publicado no Portal Gaita-BH em Fevereiro de 2003]
Dando sequência à série de entrevistas do portal Gaita-BH (sim... temos várias entrevistas ainda para serem publicadas...), este mês entrevistamos o gaitista inglês Steve Baker. Steve Baker é um dos gaitistas mais importantes da atualidade, tendo gravado vários CDs de ótima qualidade, além de escrever livros, métodos, e assessorar a Hohner buscando melhorias em seus modelos de gaitas. O Portal Gaita-BH agradece sua participação e espera sua vinda ao Brasil. O Portal promete pagar a primeira cerveja.
GBH - You're recognized as a harp player that has a significative bibliography published, like "The Harp handbook", tutorials and articles on magazines and newspapers. What's your opinion about the current situation for these publications? Why is so hard to find nice books for harp players?
GBH - Você é reconhecido por ser um gaitista que tem uma bibliografia significativa publicada, como o "The harp handbook", tutoriais e artigos em revistas e jornais. Qual sua opinião sobre a situação atual destas publicações? Por que é tão difícil encontrar bons livros para os gaitistas?
SB - Well, I certainly wish my books were more widely available. They are based on many years of experience as a professional player and I hope they contain much useful information. Unfortunately I was never very good at ensuring optimal publishing and distribution deals and I also have titles with several different publishers, so they're not always as easily available as I would wish. It would certainly be easier if they were all with one publisher. I think the books are good and deserve a wider readership. Mel Bay Publications has my Blues Harmonica Playalongs book/CD packages (volume 2 will be out soon) and the Interactive Blues Harp Workshop CD-ROM in their catalogue, so
these ought to be available from their Brasilian distributor. The Harp Handbook is published in English by Wise Publications/Music Sales and should be available from their distributors. However, I don't imagine that these publishing houses are giving my modest works any special marketing priority. You could try asking them.
Why is it so hard to find nice books for harmonica players? Dare I say that there aren't that many around? Well, harmonica education is still in its infancy and publishers are (not surprisingly) often unable to assess the quality of the contents of the books that they produce. The quality of new publications has increased dramatically in recent years and I hope that my work has helped this happen.
SB - Bem, eu certamente gostaria que meus livros fossem mais fáceis de se achar. Eles são baeados em muitos anos de experiência como músico profissional e espero que contenham bastate informação útil. Infelizmente, eu nunca fui muito bom em garantir esquemas de publicação e distribuição ótimos, e eu tenho títulos com diferentes editoras, então nem sempre é fácil disponibilizá-los da forma que eu gostaria. Certamente seria mais fácil se todos fossem da mesma editora. Acho que os livros são bons e mereciam uma gama maior de leitores. Mel Bay Publications tem meus Blues Harmonica Playalongs (pacotes com livro e CD, de forma que você pode tocar junto com o CD. O volume dois está para sair) e o CD-ROM Interactive Blues Harp Workshop em seu catálogo, então estes devem estar disponíveis através de seu distribuidor no Brasil. O The Harp Handbook é publicado em inglês pela Wise Publications/Music Sales e deve estar disponível através de seus distribuidores. Entretanto, não imagino que estas editoras estejam dando aos meus livros alguma prioridade especial de marketing. Você pode tentar encomendá-los pedindo diretamente a eles.
Por que é tão difícil achar bons livros para gaitistas? Eu arrisco dizer que sequer há muitos deles por aí? Bem, o (método de) aprendizado da harmônica ainda está em sua infância e os editores (não surpreendentemente) frequentemente não são capazes de avaliar a qualidade do conteúdo dos livros que editam. A qualidade das novas publicções tem melhorado dramaticamente nos anos recentes e espero que meu trabalho tenha colaborado neste sentido de alguma forma.
GBH - You proposed a consultancy job to Hohner and made suggestions for several improvements on quality and on design of harps. In the same way, you convinced Hohner to begin an educational program for diatonic harmonica. This was more than 15 years ago. What are your impressions of the results of such initiative? Was it hard to say to Hohner their fails and deficiencies? How is the best way to contact a harp manufacturer and ask them for improvements?
GBH - Você propôs uma consultoria à Hohner e fez sugestões de várias melhorias na qualidade e no design das gaitas. Da mesma forma, você convenceu a Hohner a começar um programa educacional para diatônicas. Isto há mais de 15 anos. Quais as suas impressões dos resultados de sua iniciativa? Foi difícil apontar para a Hohner suas falhas e deficiências? Qual a melhor maneira de contactar um fabricante de gaitas e pedir por melhorias?
SB - I think that my work for Hohner has definitely been beneficial for both sides. It was sometimes difficult for me as an outsider to communicate with the people in Trossingen and at first they were not always convinced of my motives or my expertise, but for many years we have had a very productive relationship. Relations with the diatonic harp scene in particular have improved immensely and Hohner now takes the concerns of the players very seriously. The quality has also improved considerably and harmonica education (diatonic) has advanced from virtually nothing to a fairly respectable level. I always saw myself as the player's advocate at Hohner and have always spoken my mind. This wasn't always what they wanted to hear, but in the end they pay me for my opinion and I will give it to them. I hope that we will continue to work together for many years, as I genuinely prefer their instruments. If I thought there was a better harmonica around, I would be playing it.
When contacting a harmonica manufacturer it definitely helps to be a respected professional player and to know something about how the instrument functions. If they've never heard of you, they're not likely to listen.
SB - Acho que meu trabalho para a Hohner foi definitivamente benéfica para ambos os lados. Algumas vezes foi difícil para mim comunicar com as pessoas em Trossingen e, no início, nem sempre eles estavam convencidos dos meus motivos ou do meu conhecimento, mas por muitos anos tivemos um relacionamento muito produtivo. Em especial, as relações com as diatônicas melhoraram imensamente e a Hohner agora considera as observações feitas por gaitistas com muita seriedade. A qualidade também melhorou consideravelmente e o ensino de diatônicas avançou de praticamente nada para um nível razoavelmente respeitável. Eu sempre me vi como um defensor do músico na Hohner e sempre tenho dito o que penso. Nem sempre é o que eles querem ouvir, mas no final eles acabam por me dar razão. Espero poder continuar a trabalhar com eles por muitos anos pois eu realmente prefiro as gaitas da Hohner. Creio que se houvesse gaita melhor, eu a estaria usando.
Quanto a contactar um fabricante, definitivamente ajuda ser um músico profissional e respeitado e saber algo sobre o funcionamento do instrumento. Se eles nunca ouviram falar de você, provavelmente eles nem se darão o trabalho de ouví-lo.
GBH - Have you ever came to Brasil or have plans to tour in this country in the future?
GBH - Você já veio ao Brasil ou tem planos de vir no futuro?
SB - I'd love to visit Brasil but have not yet had the opportunity. Please invite me.
SB - Eu adoraria conhecer o Brasil, mas ainda não tive a oportunidade. Convide-me.
(GBH invites you then. We pay the first beer) ;-)
(GBH então está convidando. Pagaremos pela primeira cerveja) ;-)
GBH - You raised as a harp player almost completely being self-taught. It seems to be quite frequent among harp players. Why do you think this happens? Do you think this was good or bad for you, as a harp player?
GBH - Você se tornou gaitista praticamente de uma forma auto-didata. Isto parece ser frequente entre gaitistas. Por que você acha que isso acontece? Você acha que isso foi bom ou ruim para você, como gaitista?
SB - The reason in my case is simple - when I started there wasn't anyone around to learn from. The blues harmonica scene in Britain during the late 60s was both small and fragmented and it was a rare thing to encounter another player. The only book which existed then on blues harmonica was "Blues Harp" by Tony Glover. I once glanced through it in a music store about 6 months after I started learning and decided not to buy it because I could already do the things he was describing. I didn't have the money anyway. At first I learned by listening to records and working things out for myself because I had no alternative. Later I learned a number of things from other players
simply through personal contact, though I never took lessons as such. My good friend Riedel Diegel in Cologne showed me how to overblow in about 1985, for example. He discovered it by himself while trying to bend the middle blow notes, long before we had ever heard of Howard Levy. Fortunately the situation regarding teachers and instructional material has changed in the last 15 years, there are a great many more resources open to players on all levels today.
I guess being self-taught was both good and bad for me as a player. On the one hand it probably helped me to develope an individual style. On the other hand I didn't have the benefit of learning techniques at an early stage from players who had already mastered them. I wish I had learned tongue blocking (and overblowing) in 1970. Now I struggle to integrate them into what I already do. In the end though, I believe that the bottom line in all art is, do you have anything to say? A self-taught player who has something to communicate will generally be more interesting to listen to than a trained musician who has no message. Soul is what counts, it's not what you do, it's how you do it.
SB - A razão no meu caso foi simples - quando eu comecei, não havia ninguém para ensinar. O cenário da gaita na Bretanha no fim da década de 60 era pequeno e fragmentado e era raro encontrar outro gaitista. O único livro que havia era o "Blues Harp" do Tony Glover. Eu dei uma olhada nele na loja e 6 meses depois que eu comecei a aprender decidi não comprá-lo porque eu já era capaz de fazer o que ele ensinava. E eu também não tinha grana. No início eu aprendia ouvindo discos e treinando sozinho porque não havia alternativa. Mais tarde aprendi outras coisas de outros gaitistas através de contatos pessoais, acho que nunca sequer peguei uma aula. Meu grande amigo Riedel Diegel em Colônia me mostrou como fazer overblow em 1985, por exemplo. Ele descobriu sozinho enquanto tentava tirar os bends das notas sopradas do meio, muito antes sequer de eu ouvir falar do Howard Levy. Felizmente a situação dos professores e dos materias instrucionais mudou bastante nos últimos 15 anos, de forma que hoje há muito mais recursos para músicos de todos os níveis.
Acho que ser auto-didata foi bom e ruim para mim como músico. De um lado, provavelmente me ajudou a desenvolver um estilo pessoal. De outro não tive o benefício de aprender técnicas num estágio inicial de músicos que as dominavam. Gostaria de ter aprendido tongue blocking e overblowing em 1970. Agora eu luto para integrá-los no que eu já faço. Finalmente, eu acredito que o mais importante de qualquer arte é: você tem algo para dizer? Um músico auto-didata que tem algo para dizer geralmente vai ser bem mais interessante de se ouvir que um músico treinado que não tem mensagem. A alma é o que conta, não é o que você faz, mas como você faz.
GBH - What you still have not done, musically speaking, that you would like to do? What are your projects for the future?
GBH - O que você ainda não fez musicalmente falando que você gostaria de fazer? Quais seus projetos para o futuro?
SB - Learn to play the harmonica? I'm working on that. I still dream of playing in a country swing band and I love funky music, but I've worked almost exclusively in duo and trio formats for years because of the greater flexibility and lower costs. I love the fact that you are forced to pay total
attention in a small line-up, otherwise everything can go horribly wrong. There'a a lot more space and it's easier to create a wide dynamic range than when you play with a band. I am very fortunate in being able to work with three great guitarists in three completely different line-ups: Abi Wallenstein, Chris Jones and Dick Bird.
I have a new live CD with Chris Jones coming out very soon on Acoustic Music Records (Chris Jones & Steve Baker - "Smoke and Noise", AMR 319.1303.2). Though it was recorded live it contains a lot of new material which is not on our earlier CDs. Blues Harmonica Playalongs volume 2 will also be out in March (published by Artist Ahead, order no. AA-3601-004, distributed by Mel Bay). For this project I got Mudsliders guitarist Dick Bird, with whom I've been working since we were both teenagers in London, to play all the guitar parts and it's turned out really well. Dick and I perform regularly with the Mudsliders, a trio with Angela Altieri on washboard and vocals, who used to play with the late Rock Bottom in the Silver King Band under the stage name of Flo Mingo.
Abi Wallenstein also has a new CD coming out on March 10th (Abi Wallenstein - "Step in Time", NVN 03001, distributed by Alive, a sub-label of Sony I believe), I play harp on 7 of the 12 titles. Abi and I have been performing regularly as a duo ever since 1990, but now we're doing a lot of gigs as a trio featuring a cajon player. This really rocks, you get a full band sound without losing the minimalist feel, and you can still fit everybody plus all our gear and a small PA into my car! You could put any one of these line-ups unamplified on a street corner almost anywhere, just us and our instruments, and we'd make money. This is how I started and I can still do it if I have to. It would even be fun!
It has been an amazing privelege to be able to make a living from playing music for so many years and I'm profoundly grateful that I've had the opportunity to do so. I believe that music has a spiritual element and this is very important to me. If I can touch the hearts of my listeners and make their lives a tiny bit better for a short while then this is a good reason to be here on earth.
SB - Aprender a tocar gaita? Estou trabalhando nisso. Ainda sonho em tocar numa banda de country swing e adoro funky music, mas tenho trabalhado quase que exclusivamente eu duos e trios por anos devido à flexibilidade e baixo custo. Adoro o fato de ser forçado a prestar atenção num pequeno grupo de músicos, de forma que qualquer erro possa soar muito mal. Há mais espaço e é mais fácil de criar uma grande gama dinâmica do que quando voc6e toca com uma banda. Tenho muita sorte de poder tocar com três grandes guitarristas de três composições completamente diferentes como Abi Wallenstein, Chris Jones e Dick Bird.
Tenho um novo CD ao vivo com Chris Jones que está para sair muito em breve pela Acoustic Music Records (Chris Jones & Steve Baker - "Smoke and Noise", AMR 319.1303.2). Por ter sido gravado ao vivo, ele contém muito material novo que não saiu em CDs anteriores. Blues Harmonica Playalongs volume 2 deve sair em Março (publicado pela Artist Ahead, order no. AA-3601-004, distribuído pela Mel Bay). Para este projeto eu chamei o guitarrista do Mudsliders, Dick Bird, com quem tenho trabalhado desde que éramos adolescentes em Londres, para tocar todas as linhas de violão e ficou bem legal. Dick e eu tocamos regularmente com os Mudsliders, um trio com Angela Altieri no washboard e voz, que tocava com Rock Bottom na Silver King Band sob o pseudônimo de Flo Mingo.
Abi Wallenstein também tem um novo CD saindo dia 10 de Março (Abi Wallenstein - "Step in Time",
NVN 03001, distribuído pela Alive, um selo da Sony creio), eu toco em 7 das 12 músicas. Abi e eu temos tocado como um duo desde 1990, mas agora temos feito várias apresentações como um trio com um músico de cajon (cajon é um instrumento de percussão em forma de caixa). É muito bom e você pode ouvir o som da banda sem perder o sentimento minimalista e você ainda pode colocar todos os músics, instrumentos e equipamentos no meu carro! Você também pode colocar estes músicos em qualquer esquina, sem amplificação, e ganhar dinheiro tocando na rua. É o modo como comecei e que ainda poderei fazer se for necessário. Sem contar que ainda é divertido!
Tem sido um grande privilégio poder ganhar a vida tocando por tantos anos e estou profundamente grato por ter tido a oportunidade de poder fazê-lo. Eu acredito que a música possui um elemento espiritual e isto é muito importante para mim. Se eu puder tocar os corações de meus ouvintes e fazer suas vidas um pouquinho melhor por um momento então já foi um bom motivo para eu estar neste planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário