[publicado no Portal Gaita-BH em Março de 2004]
A entrevista desta edição é com Helton Ribeiro, jornalista e editor responsável pela revista Blues And Jazz, referência nacional no gênero.
(GBH) Quem é o Helton Ribeiro?
(HR) Jornalista fluminense, formado em Minas e morando em São Paulo. Trabalhei nos jornais O Globo, Jornal do Brasil, Diário Popular (atual Diário de S. Paulo), no programa Metrópolis (TV Cultura), fui colaborador da Bizz e atualmente sou colaborador da Bravo! e da agência de notícias Reuters. Ah, claro, e editor da Blues'n'Jazz nas horas vagas.
Depois de fazer de tudo no jornalismo (de polícia a política, de futebol a ciência), fui deslocado a contragosto para a cobertura de cultura e variedades no Globo, em 92, suprindo uma colega que entrou de férias. Até então minha paixão pela música era só hobby, eu não me imaginava trabalhando com isso. Mas a sina estava traçada: nunca mais saí do jornalismo cultural.
(GBH) Como vc se envolveu com a revista Blues and Jazz?
(HR) O violonista americano Steve James, na época totalmente desconhecido no Brasil, veio tocar no Bourbon Street, em São Paulo, há uns oito anos. O show foi espetacular mas, como não saiu nada na imprensa, estava vazio. Eu mesmo quase não fui. Fiquei pensando: "Pouca gente paga pra ver um show internacional de um artista que nunca ouviu falar. Se tivesse uma revista de blues no Brasil as pessoas saberiam quem é ele". Bem, como sou jornalista...
Alguns anos depois tive a satisfação de vê-lo de novo em shows lotados no Bourbon, e também de dar uma capa pra ele.
(GBH) Vc acompanhou uma boa parte da história do blues no brasil. Quais as suas impressões sobre os gaitistas que surgiram?
(HR) No começo o único gaitista conhecido era o Flávio Guimarães, blues era sinônimo de guitarra. Mas nos últimos cinco anos houve um "boom" de gaitistas, blues virou sinônimo de gaita, todo mundo quer aprender a tocá-la. Surgiu uma nova geração entusiástica aprendendo e descobrindo o trabalho de gente que já ralava há bastante tempo, como Jefferson Gonçalves, Sérgio Duarte, Robson Fernandes e muitos outros. Hoje estes caras estão tocando nos festivais e mostrando o talento que têm.
(GBH) Como está o cenário brasileiro para os gaitistas de jazz e blues atualmente na sua opinião?
(HR) Como sempre, difícil. Não há muitos lugares onde tocar e raramente se conseguem cachês decentes. Em São Paulo há dezenas de bandas e apenas dois ou três bares com blues. O Rio, nem isso tem. Então os músicos das capitais estão indo tocar no interior, enquanto os músicos do interior têm a ilusão de que a salvação é tocar em São Paulo. Acredito que a tendência é a descentralização. Vejo músicos de cidades pequenas como Poços de Caldas (MG) ganhando cachês na sua região que nenhum bar de São Paulo pagaria. Porto Alegre, Brasília e Recife são capitais que também vêm garantindo espaço a seus músicos.
O mercado fonográfico está se ampliando um pouco, com pelo menos três selos de blues em atividade: Blues Time, TopCat (ambas do Rio) e Blues Associados, em São Paulo. E por fora tem os CDs do Gaita-L, dando espaço a todo mundo.
(GBH) Depois de ter acompanhado o surgimento de novos gaitistas brasileiros, qual vc acha o caminho mais promissor para a gaita no brasil? os gaitistas devem insistir em revisitar estilos clássicos de chicago, delta blues e californiano, ou devem partir para experimentalismos?
(HR) Hoje todo mundo quer tocar como os virtuoses da Califórnia, e acho que em pouco tempo isso vai saturar, vai acabar todo mundo tocando igual. Acho que muita gente está esquecendo de fazer o dever de casa, quase ninguém se interessa por Delta Blues, por exemplo; a impressão que dá é que a gaita surgiu com Sonny Boy ou Little Walter. Mas, salvo poucas exceções, acho que o futuro do blues no Brasil é a mistura com nossos ritmos e nossa língua. Quem ainda torce o nariz pode ouvir o CD solo do Jefferson, "Gréia", e dar o braço a torcer.
(GBH) Qual o seu conselho para o gaitista que quer se iniciar na carreira de músico? Qual a atitude que as bandas deveriam ter para progredir no mercado brasileiro?
(HR) Para a nova geração, lembro sempre o conselho que os gaitistas mais experientes também dão: evitem o excesso, tocar dez notas quando uma basta, mostrar técnica sem sentimento. Blues não é corrida de Fórmula 1 nem torneio de acrobacias.
E por melhores que sejam os músicos, poucos conseguem crescer sem profissionalismo. Já passou aquela fase de "blues é só subir no palco e mandar ver". Precisa ensaiar muito, ter postura de palco, um set list dinâmico, empatia com o público. Para a maioria das pessoas (estou falando do ponto de vista do público), o melhor músico do mundo vira um chato de galocha se só tocar slow blues, ou fazer solos quilométricos em todas as músicas, ou parar o show toda hora pra combinar com a banda que música vão tocar a seguir. Vejo que os músicos preocupam-se muito mais em tocar bem do que em fazer um show para divertir o público, sendo que as duas coisas são igualmente importantes. Outra falha: o músico que se esfola pra ser o melhor no seu instrumento mas esquece de se dedicar com o mesmo empenho ao vocal. Aí ele ganha alunos mas não conquista o público, que dá muita importância a um bom vocalista.
No mais, é ter muita paciência e perseverança, porque o caminho é longo e árido. No blues, uma banda com cinco anos de estrada ainda é considerada iniciante; no rock, seria veterana.
O Portal Gaita-BH agradece a colaboração de Helton Ribeiro e aproveita para avisar seus leitores que a Revista Blues And Jazz também tem site: http://bluesnjazz.bluesbr.com/bluesbr.php
Oi..
ResponderExcluirPoderia me informar sobre algum professor ou local que dê aula de gaita em BH????Gostaria muito de aprender....
Favor enviar no email:
lukasantiago@hotmail.com
Desde já grato...
Onde Compro a revista Blues n jazz em BH?
ResponderExcluirsó pelo site http://www.bluesnjazz.com.br/
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