quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Como melhorar o Timbre

[publicado no Portal Gaita-BH em Janeiro de 2002]

Acredito que o timbre mais gordo é produzido pelo menor número possível de restrições em toda extensão da coluna de ar.

Apesar de existirem momentos nos quais iremos procurar criar uma sonoridade fina e incisiva, na maior parte do tempo estaremos procurando soar profundos, cheios, “gordos”.

A respiração envolve a participação coordenada de vários grupos de músculos e uma pessoa que não interfere contraindo de forma desnecessária pelo menos alguns destes grupos ao tocar gaita são bastante raras.

O diafragma pode ser considerado o início, uma vez que está geograficamente localizado no início da coluna de ar, porém a liberação dos músculos intercostais (aqueles que movem as costelas) também é benéfica. É bom também verificar a área superior do tórax que também expande quando você respira profundamente.

Vale ressaltar que é interessante praticar a respiração inferior (diafragmática) uma vez que grande parte dos ocidentais não utlilizam esta técnica de forma consciente. Para conseguir um timbre interessante é importante que a coluna de ar seja tão larga, extensa e desimpedida quanto possível, de forma a utilizar o diafragma com eficiência e que não seja utilizada apenas a expansão da parte superior do tronco. Conforme seu mecanismo de respiração for se tornando mais livre seu timbre irá melhorar de acordo.

O Timbre também é muito afetado pela abertura da garganta e da boca (apesar de ser possível respirar enquanto existe contração na garganta, boca, lábios, etc..). Portanto vale ressaltar que o ar tem que passar por toda esta região LIVREMENTE, com a maior abertura possível. Quanto melhor você aprender a controlar as estruturas que contornam a coluna de ar, maior fluência e possibilidade de alterar seu timbre você terá.

E como melhorar o timbre ?

É necessário um certo grau de contração muscular para criar a embocadura, criar um bom selo com a gaita, fazer com que apenas um orifício soe de cada vez, segurar a gaita, iniciar a respiração, etc...

Nossos problemas começam porquê acabamos exagerando em alguns destes fatores, em grande parte porque durante nossa vida estamos acostumados em exagerar em praticamente todas nossas atividades.

Uma das maneiras de evitar isto é transformando nosso corpo em uma grande caixa acústica e começar a ficar atento a nosso corpo durante o processo de produzir sons com nossa gaita. Alguns exercícios (explicados no final deste artigo), se executados com consciência, irão prover um ambiente no qual será possível perceber como nós restringimos nossa respiração e interferimos na produção de uma nota. Outra coisa é se familiarizar com os compartimentos ressonantes que nós produzimos com nossa boca/garganta ao produzir uma nota.


Os seguintes exercícios foram retirados de uma mensagem do harmonicista Richard Hunter e tem como objetivo auxiliar na respiração. Acrescentei algumas dicas ao exercício 3.

1) O propósito deste exercício é auxiliar ao gaitista uma respiração eficiente. Algumas vezes é difícil para o gaitista reconhecer e distinguir entre respiração superior e inferior. A proposta aqui é introduzir ao gaitista a sensação física de se respirar através do diafragma.

Fique de pé com os braços esticados ao lado do corpo. Lentamente levante-se na ponta dos pés ao passo que inspira e levante os braços acima da cabeça. Mantenha-se na ponta dos pés com os braços acima da cabeça e lentamente vá abaixando os braços novamente para os lados do corpo enquanto expira.

2) Mantenha uma nota (qualquer nota aspirada ou soprada) no volume médio por tanto tempo quanto possível. 15 segundos é um tempo interessante para se tentar alcançar.

3) Novamente escolha uma nota qualquer aspirada ou soprada. Inicie esta nota no menor volume possível. Gradualmente vá aumentando até o maior volume possível que você puder produzir. Baixe esta nota até o volume inicial gradualmente na mesma velocidade que você utilizou para aumentar o volume.

Dica para este exercício: Faça o aumento e diminuição de volume em velocidades equivalentes porém com curvas de tempo maiores ou menores.

Outra dica: Procure aumentar o volume sem aumentar soprar ou aspirar com muita força. Procure mudar o formato da boca, expandir os músculos do tórax e abdome aumentando a ressonância, “vibrando” com a nota. Este é o caminho para um bom timbre (soar mais cheio sem necessariamente aumentar o volume). Pesquise seu corpo.

Outros exercícios:

A) Exercícios de respiração com a gaita imitando trem (técnica tb conhecida como “Chuggin”) ajudam a desenvolver a respiração inferior e o timbre. Comece com exercícios simples e lentos (aspirando o 1 e 2 simultâneamente duas vezes depois fazendo o mesmo soprando e repetir isto várias vezes aumentando a velocidade gradualmente). Este é um bom exercício para fazer diariamente.

B) Exercícios de Bend: Após praticar os exercicios anteirores, procure fazer exercícios de bend concientemente alterando seu timbre modificando o formato da coluna de ar que você produz. Utilize as duas dicas que escrevi no exercício 3 treinando bends.

C) Treine também o vibrato gutural. Modifique o tempo do vibrato (fazendo-o mais lento e mais rápido). Faça-o com os vários bends do orifício 3. Aprenda a controlar esta técnica, ajuda muito a melhorar o timbre.

D) Escute gaitistas com bom timbre, de preferência “limpo”. Tente imitar a sonoridade dos gaitistas que você considera que tem um bom timbre.

Outras dicas:

Tente utilizar bastante uma gaita afinada em “G”. Você pode sentir com mais facilidade as vibrações em uma gaita mais grave e considero mais fácil produzir vários timbres distintos numa gaita em tonalidade grave. É um bom estudo.

Finalmente, o velho conselho: Devagar e SEMPRE.
Se você fizer conscientemente TODOS exercícios aqui citados (vamos lá, não demora muito para fazê-los) como uma espécie de “aquecimento” antes de tocar (ou de estudar) irá perceber que sua sonoridade e controle irão melhorando gradualmente.

O timbre é algo que deve ser estudado continuamente, com o tempo talvez você encontre sozinho outros exercícios que irão ajudar a “aquecer” as turbinas, mas estes aqui citados são um bom começo.

Um abraço e boa sorte,

Gaspar Vianna

(Gaspar Vianna é gaitista da banda carioca Garganta Seca e faz parte do time de dinossauros dos primórdios do Gaita-List. Também faz manutenção em gaitas, incluindo ajustes, vedações, reafinações e várias outras coisas divertidas que podem ser feitas para melhorar o que nunca vem bem ajustado de fábrica)

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