[publicado no Portal Gaita-BH em Dezembro de 2001]
Antes de tudo uma explicação, o nome overbends foi por mim adotado após eu ter lido o artigo do Joe Filisko tratando desse assunto, e juntamente com uma discussão com o gaitista Gaspar Vianna que me convenceu de que era um nome muito mais coerente de ser usado.
Acredito que muitos já ouviram falar dessa milagrosa técnica que pode tornar sua gaita diatonica em uma cromatica, isso não é uma verdade, a diatonica sempre vai ser uma diatonica, o detalhe esta na possibilidade de cromatização. Por que possibilidade? Por que poquissimos gaitistas executam esse cromatismo com precisão cirurgica, e com isso torna muito dificil a possibilidade de variação tonais e articulações que normalmente são usadas em musica erudita ou de caracteristicas mais complexas.
A gaita diatonica na minha opinião é um instrumento, que apesar de uma estrutura simples, é completo e rico em timbres e possibilidades, que exige do gaitista muito estudo para que possa responder as espectativas musicais em relação a outros instrumentos já "domados".
Voltando ao assunto, o overbend ainda não é bem visto pelos gaititas em geral, pricipalmente os mais ligados ao blues. Apesar de ser associado ao jazz muitas vezes, muitos gaitistas do cenario "blusistico" tem ajudado a disseminao-lo, e inclusive a primeira gravação a ter o uso de um overbend foi de De For Baley, que acredito eu, não sabia dizer exatamente o que era aquilo, mas usou, como fizeram os primeiros negros ao tentar tocar as escalas europeias em gaitas diatonicas e obtiveram os primeiros bends, que representavam as blue notes. Temos Carlos del Junco, um grande gaitista que usa em larga escala essas notas e mais proximo de nós o Robson Fernandes que tem surpreendido o cenario nacional da gaita e faz uma bela utilização de overbends.
Ao meu ver o mais notavel executante dessa técnica é Howard Levy. Apesar de multiinstrumentista, foi na gaita em que ele se revelou, pois sistematizou o uso da escala cromatica na diatonica e devido a seu talento musical, participou de muitas gravações explorando um universo ainda não explorado pela diatonica, tocar em pé de igualdade com outros intrumentos.
Uma gravação que impressiona até hoje é o "Harmonica Jazz", que apresentando gravações memoraveis de grandes pilares do jazz, como Thelonius Monk, John Coltrane e Charlie Parker, sendo temas de dificil execução mesmo para instrumentos tradicionais, e também temas de autoria propria. Tornou-se um marco para uma técnica até entao desconhecida. Na mesma época Howard Levy gravou uma video aula (News Directions for Harmonica) falando nao só de overbends, mas de aspectos gerais da gaita, teoria musical e etc. Essa fita mostra ele como um gaitista completo que utiliza muitos recurso da gaita e domina algo que diferencia os musicos, o feeling.
Tal destaque dado a Howard Levy está ligado a sua pluralidade musical, que o atraiu a essa busca pelos overbends, algo que todos os gaitistas deveriam ter como horizonte. Não acho que devemos deixar de tocar blues, a gaita tem o sotaque desse estilo, o que nao podemos fazer é deixar a gaita relegada a apenas uma linguagem e também assumir o papel de que a gaita diatonica é limitada.
Usando a pratica, o overbend se torna extremamente interessante quando falamos do uso completo da escala de blues na segunda posição. Tendo como exemplo uma gaita em dó, o overbend do sexto orificio vai ser um si bemol, essa é a terça menor que caracteriza a escala. O overbend nesse orificio nao requer muitos segredos a não ser um ajuste nas palhetas, baixando a altura das mesmas, e um treino preparatorio no bend do orificio 8.
A execuçâo de temas na diatonica pede muitas notas fora da escala, alguns diriam, use a cromatica, mas nao acho que deve ser assim. A cromatica também apresenta limitações e exigi muito estudo, sem contar que não devia haver movimentos contrarios a uma tecnica que somente visa ampliar o alcance musical do instrumento.
Site oficial Howard Levy
Site do gaitista Tinus, falando sobre overbends
Rodrigo Eisinger
(Rodrigo Eisinger é estudante de fisica na UFCSar. Membro da gaita-l, iniciou oficialmente seus estudo em 1999 em São Carlos na gaita diatonica, em seguida iniciou o estudo na gaita cromatica e se tornou músico da Orquestra Experimental da UFSCar, onde toca até hoje. Toca em formações ecléticas, e tem participado periodicamente de festivais de MPB pelo pais com o grupo Bocapío)
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