quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Uma técnica BENDifícil

[publicado no Portal Gaita-BH em Março de 2004]

Se tem uma coisa que eu insisto em dizer é que o bend é uma técnica de nível avançado na gaita. Apesar da popularidade desta técnica em meio aos iniciantes e a gaitistas de nível intermediário, poucos executam esta técnica de forma extremamente precisa, o que se faz necessário em muitos casos na execução de temas, o que não implica temas complexos, tendo em vista que muitos casos de execução de músicas em outras tonalidades requer apenas um bend que atinja o sexto grau (nota A em uma gaita em C). O grande problema do bend está no seu maior mérito, a sua aplicação no blues.

Não estou aqui para julgar, mas para ao menos relatar o que presencio sempre, onde o bend é tratado como uma ferramenta de efeito para a execução do blues. O efeito da blue note para a música ocidental e a particularidade com que a harmônica executa esse tipo de nota é inegável, considerando inclusive que para muitos teoóricos a blue note não está representada em um intervalo claro de semitom, como por exemplo a quarta aumentada, e sim no meio do caminho entre o intervalo de quarta e quinta justa. Neste ponto temos o “x” da questão, a não necessidade de precisão absoluta na execução das blue notes torna essa técnica para o blues um pouco menos difícil. Mas e no caso de execuções complexas e articulações em orifícios com mais de um semiton executados com bend? É preciso muito estudo para se chegar as notas de forma afinada e com um bom timbre, sem contar o treino de diafragma e vibrato gutural para a execução de figuras rítmicas difíceis.

Um bom auxílio para a melhoria na precisão dos bends está no estudo direto da afinação de tais notas usando como referência o piano ou então um afinador eletrônico, e juntamente com isso utilizar gaitas que trabalhem a região grave, melhorando assim a capacidade de respiração e técnica nos bends.

Todo material que já pude estudar e que tratava do assunto dos bends de forma mais aprofundada trazia a nessecidade da articulação silábica sobre as notas do bend. A pronúncia do “Q” de forma a produzir uma nota mais martelada ao mesmo tempo que se executa o bend mostra-se interessante no sentido da precisão e também articulação, que quando associado ao estudo de afinação vem a melhorar muito a execução de frases complexas (exemplo: parte B do standart de jazz “Take Five”).

O gaitista Richard Hunter lançou um desafio no qual a linha melódica da Nona Sinfonia de Beethoven em segunda posição de forma que o bend que deveria ser executado (Sexta maior) não soassem como um bend. Poucos gaitistas chegaram em bons resultados, e ainda assim era possível reconhecer a nota executada com bend. Esse desafio me deixou intrigado com a questão do timbre real do bend. Será que o bend tem um timbre especifico? E se tiver será que é possivel alterá-lo? Diante de tudo que já escutei acredito que esse seja um dos pontos importantes em relação ao bend, pois aparentemente um bend vai sempre soar como tal, independente de sua afinação.

Cada vez mais a gaita diatônica expande seus horizontes e pede cada vez mais por melhorias em sua estrutura, vejo como passo importante o estudo aprofundado o bend para o grande avanço do gaitista.

Dicas: Talvez elas sejam óbvias, no entanto vejo como um recurso bem interessante

1 – Ao estudar o bend, segure ele pelo maior tempo possível afinado, tentando também manter o timbre do mesmo.
2 – Respire pelo diafragma e evite perda de ar pelo nariz
3 – Treine a articulação de bends em orifícios como o 2, 3 e 10, executando eles sequencialmente, utilizando o recurso da pronúncia silábica.

Exercícios:
(2a 2a´ 2a´´ 2a´ 2a ...) (2a´ 2a´´ 2a´ 2a´´ 2a´ ...) (2s 2a´ 2s 2a´´ 2s...) (2s 2a´ 2a´´ 2a´ 2s...)

(3a 3a´ 3a´´ 3a´´´ 3a´´ 3a´ 3a ...) (3s 3a´ 3s 3a´´ 3s 3a´´´ 3s ...) (3a´ 3a´´ 3a´ 3a´´ 3a´´ 3a´ ...) (3a´´ 3a´´´ 3a´´ 3a´´´ 3a´´ ...) (3a´ 3a´´´ 3a´ 3a´´´ 3a´ ...)

Executar se possível usando um afinador ou juntamente com o piano



Rodrigo Eisinger

(Rodrigo Eisinger encostou numa gaita pela primeira vez em 97. Começou a fazer Física na UFSCar mas percebeu que levava mais jeito prá música que prá Física, então hoje estuda Música Popular na Unicamp, tocando bastante cromática por lá. Gosta de ritmos nordestinos, Jazz, Blues, Erudito, música Celta, Árabe e Indiana. Curte Levy, del Junco, Weltman, Power, Harper, Galison, Toots e Little Walter)

4 comentários:

  1. Como classificar um gaitista em iniciante,intemediário ou profissional?

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  2. é uma boa pergunta. eu penso no profissional o cara que vive disso (geralmente o cara é bom, mas acontece às vezes de não ser). o iniciante é o cara que está aprendendo o básico, talvez com a ajuda de um professor, tocando aqui e ali numas jams da vida e o intermediário é o cara que é capaz de substituir um profissional num show ou numa gravação mas que não faz da gaita um modo de vida.

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  3. Vish! Nem no iniciante eu cheguei ainda! Entao eu sou oq?? Kkkkk
    pode me dar umas dicas para bend ae?

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  4. Acho que se tratando de gaitistas, assim como no mundo da música em geral, existem os níveis (conhecimento/experiência/técnica) básico, intermediário, avançado e expert (restrito aos diferenciados). Já o profissional é aquele que trabalha com música, independente de qual nível está. Já vi profissionais de nível básico tocando por aí.

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